Semiologia
CISTO PRIMORDIAL
Autores:SODRÉ M B.;VIANA,R.N.; ELIAS,R.; GUITMANN,J.L; FADEL,F.J.C.
No que diz respeito ao termo “Cisto Primordial” , utilizado na abordagem
deste artigo, refere-se a um cisto oriundo da degeneração do órgão do
esmalte, ocorrendo portanto em lugar de um dente, sem conotação
histológica quanto à formação de ceratina. Contudo apresenta-se ao
discorrer sobre o tema abordagens de diferentes momentos da literatura e
no uso dos termos “Cisto Ceratocisto” e “Cisto Primordial” como sinônimos.
Os cistos e tumores de origem Odontogênica constituem um grupo variado de
multiformidade de lesões. Estes cistos e tumores originam-se de alguma
deformidade do padrão normal da odontogênese. Os cistos que formam-se em
alguma fase da odontogênese, podem estar diretamente associados ao
desenvolvimento de alguns dos tumores odontogênicos.O cisto de origem
odontogênica é definido como uma cavidade patológica revestida por
epitélio, contendo material líquido ou semi-sólido. Podendo ainda ser
intra-ósseo e de característica calcificante. Os cistos odontogênicos são
derivados do epitélio associado ao desenvolvimento do órgão dentário e,
podem ocorrer vários tipos destes cistos, dependendo da fase da
odontogênese na qual se originam. Estes grupos de cistos foram
classificados de acordo com a fase em que se originam e das lesões
características, em um sistema de nomenclatura que se originou com a
criação de um Centro Internacional de Referência para a Definição e
Classificação Histológica dos Tumores Odontogênicos, Cistos dos Maxilares
e Lesões Afins, em 1966, pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esta
classificação foi criada com o intuito de levar à discussão dos estudiosos
pesquisadores estimulando a disseminação de idéias e conhecimentos e
cooperação internacional para a análise da complexidade deste grupo de
tumores.Fazendo parte deste sistema de classificação, encontra-se o Cisto
Primordial foco central de nossa abordagem neste artigo, que é um dos
tipos de cisto odontogênico menos comuns.
Palavras chaves: cisto; primordial, odontogênico
ABSTRACT
The term “Primordial Cist” used in this article refers to a cist sourced
from the degeneration of the enamel organ, occurring therefore in lieu of
a tooth, without histological connotation with respect of the formation of
ceratine. However, we show along the presentation of the theme, various
different approaches in different moments of the history and the use of
the terms “Ceratocist Cist” and “Primordial Cist” as synonyms.The cists
and tumors of odontogenic origin constitute a varied group of multiformity
of lesions. These cists and tumors are originated from some deformity of
the odontogenesis normal standard. The cists formed in some stage of the
odontogenesis may be directly associated to the development of some
odontogenic tumors.The cist of odondogenic origin is defined as a
pathological cavity coated by an epithelium containing a liquid or
semi-solid material. The cist may also be intra-bone and of calcifying
nature. The odontogenic cists are derived from the epithelium associated
to the development of the dental organ. It may occur various types of
cists depending on the stage of the odontogenesis they were originated
from.These groups of cists were classified according to the stage where
they are originated and to the characteristic lesions. The nomenclature
system was sourced with the creation of the International Reference Center
for the Definition and Classification of Odontogenic Tumors, Maxillary
Cists and Other Lesions, in 1966, by the World Health Organization. The
classification was created aiming at putting the subject into discussion
among researchers and stimulating the dissemination of ideas, knowledge
and international cooperation in the analysis of the complex group of
tumors.Being part of this system of classification and being one of the
less common types of odontogenic cists, the Primordial Cist is the core of
our article.
Keyword: cist; primordial; odontogenic
INTRODUÇÃO
Partindo da classificação histológica escrita por PINDBORG, KRAMER e
TORLONI (1971): o Cisto Primordial se desenvolve pela degeneração cística
e liquefação do órgão do esmalte, antes de ocorrer a calcificação do
esmalte ou da dentina causado por germe dentário. Normalmente encontrado
em lugar de um dente, raro e de difícil diagnóstico.
Características Clínicas: O tamanho do cisto varia muito, podendo expandir
o osso e deslocar os dentes adjacentes pela pressão. Está associado,
ocasionalmente, a um dente decíduo erupcionado, retido. A lesão não é
dolorosa a menos que se torne infectada. Raramente apresenta manifestações
clínicas óbvias. Forma-se precocemente mas é de difícil diagnóstico, sendo
assim descoberto tardiamente ou até mesmo não ser descoberto. |
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Características Radiográficas: O exame radiográfico revelará uma área
radiotransparente em lugar do dente permanente normal. O Cisto Primordial
aparece como uma lesão redonda ou ovóide, bem delimitada, que pode mostrar
limites escleróticos ou reativos, e que pode ser uni ou multilocular. Pode
estar localizado abaixo das raízes dos dentes, entre as raízes dos dentes
adjacentes ou perto da crista do rebordo em lugar de um dente
congenitamente ausente, particularmente um terceiro molar superior ou
inferior. Esta propensão para o envolvimento de um terceiro molar ainda
não foi explicada satisfatoriamente.
Características Histológicas: O aspecto microscópico é semelhante ao de
alguns dos outros cistos odontogênicos. A parede é composta de feixes
paralelos de fibras colágenas de densidade variável. A superfície interna,
voltada para a luz, é forrada por uma camada intacta ou interrompida de
epitélio pavimentoso estratificado. Em alguns casos, este epitélio não é
caracterizado e apresenta uma camada espinhosa muito proeminente com
papilas epiteliais alongadas e, às vezes, confluentes, e a presença de uma
camada basal que não é proeminente.
Em outros casos, o epitélio pode ter uma camada superficial de
ortoceratina, enquanto que a camada espinhosa pode ser relativamente fina
ou de espessura moderada. A camada de células basais não é proeminente e,
por vezes, encontra-se achatada. Ainda em outros casos, o epitélio está
coberto por uma camada de paraceratina e tem aspecto corrugado típico,
enquanto que o resto do epitélio tem espessura excepcionalmente uniforme,
geralmente de seis a dez células, com uma camada basal extremamente
proeminente, com as células dispostas como “paus de cerca” ou “pedras
tumulares”, sem formação de papilas epiteliais. Este último tipo
representa o Ceratocisto Odontogênico característico, que é aparente em
alguns destes cistos primordiais.
Encontra-se, variavelmente, a presença de células de inflamação crônica,
principalmente linfócitos e plasmócitos, de mistura com leucócitos
polimorfosnucleares, no tecido conjuntivo da zona subepitelial adjacente.
Tratamento: O tratamento do Cisto Primordial consiste na remoção cirúrgica
com curetagem completa do osso, a fim de assegurar a remoção total do
epitélio, particularmente se houver fragmentação do revestimento. O índice
de recidiva é relativamente elevado se o cisto representar um Ceratocisto
Odontogênico.
REVISÃO DE LITERATURA
Em meados dos anos 50, patologistas orais, na Europa, introduziram o termo
Ceratocisto Odontogênico para designar um cisto com o comportamento
clínico e aspectos histológicos específicos, que eles acreditavam se
organizar da lâmina dentária.
Posteriormente este conceito foi amplamente aceito e os termos Cisto
Primordial e Ceratocisto Odontogênico passaram a ser usados como
sinônimos.
PHILIPSEN (1956) foi o mentor da introdução do termo “Ceratocisto
Odontogênico”, referindo-se a qualquer cisto dos maxilares que
apresentasse formação de ceratina representativa. Sabe-se que outros
cistos podem apresentar ceratinização dos seus limitantes epiteliais.
Contudo, o ceratocisto possui um padrão de ceratinização peculiar além de
características histopatológicas que o distingue dos demais cistos. No
tocante a etiologia existe um consenso de que a origem mais provável seja
a partir da lâmina dentária ou de seus remanescentes.
De acordo com SOSKOLNE e SHEAR, após uma análise de uma série de 50 Cistos
Primordiais, afirmaram que o Cisto Primordial além das formas de origem já
citadas, também pode originar-se diretamente de lâmina dentária, e
verificaram que todos os cistos primordiais por eles estudados, de acordo
com a sua definição de lesão, apresentavam formação de ceratina ou
paraceratina pelo epitélio de revestimento, sendo assim, definidos por
eles como Ceratocistos Odontogênicos.
No entanto, BRANNON verificou em seu estudo clínico-patológico de 312
casos de Ceratocisto Odontogênico, que apenas 44% dos Cistos Primordiais,
segundo sua definição de cisto, eram Ceratocistos Odontogênicos.
Esta disparidade foi explicada em parte por FORSELL e SAINIO, os quais
salientaram que a denominação “Cisto Primordial” foi usada por alguns para
definir um cisto oriundo da degeneração do órgão do esmalte, e outros para
definir um cisto derivado da odontogênese, a lâmina dentária. Sendo este
último um cisto invariavelmente com a presença de características
histológicas patognomônicas do Ceratocisto Odontogênico, as denominações
de Cisto Primordial, com este último sentido, e de Ceratocisto
Odontogênico passaram a ser usadas como sinônimos por alguns e causando
confusão para muitos.
Evolução do conceito e do significado do termo “Cisto Primordial”: nas
classificações de cistos mais antigas, usadas nos EUA o Cisto Primordial
foi considerado como sendo originado da degeneração cística do epitélio do
órgão do esmalte, antes do desenvolvimento dos tecidos dentinários
calcificados. Por esta razão ocorre no lugar de um dente.
A classificação da OMS em 1972, adotou a denominação Cisto Primordial como
termo preferido para esta lesão. Contudo, a classificação da OMS de 1992,
considera o termo Ceratocisto Odontogênico a denominação preferível. Se há
um Cisto Primordial que não é microscopicamente um Ceratocisto
Odontogênico, isto deve ser alterado.
Nos estudos da patologia oral e maxilofacial, NEVILE, DAMM, ALLEN e
BOUQUOT, um Cisto Primordial, de acordo com antigo significado do termo,
quase sempre é um Ceratocisto Odontogênico, depois de estudado no exame
microscópico.
CONCLUSÃO:
O Cisto Primordial é um tipo de cisto odontogênico raro, que é originado
através da presença de germe dentário. Desenvolvendo-se pela degeneração
cística e liquefação do retículo estrelado do órgão do esmalte do dente,
antes de ocorrer a calcificação do esmalte ou da dentina. Sendo assim
encontrado no lugar de um dente e, não associado a um dente. Podendo
ainda, ser originado de um dente supranumerário.
O conceito e o significado do termo Cisto Primordial, no entanto,
continuam controvertidos nas visões de alguns autores e se confundem na
evolução das classificações e abordagens literárias. Talvez devido há
circunstâncias que mostram a dificuldade que, às vezes, envolve o
diagnóstico do Cisto Primordial, até pela sua raridade e características
de desenvolvimento e origem se cruzarem em uma linha divisória muito
próxima ao Cisto Periodontal residual e ao Ceratocisto.
Referência a tal tipo de lesão é quase inexistente na literatura e não há
publicações que apresentem um numero de casos significativos.
O diagnóstico de qualquer dos cistos odontogênicos e sua identificação
exata quanto a sua classificação dependem de exame microscópico do tecido,
juntamente com o estudo cuidadoso dos dados clínicos e radiográficos.
Muitos acreditam que todos os cistos primordiais são ceratocistos
odontogênicos, ainda que alguns reconheçam a existência de um Cisto
Primordial que não tem característica histológica do ceratocisto. Sendo
esta lesão extremamente incomum.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KRUGER, G. O.. Cirurgia bucal e maxilo-facial. 5ª ed.
Editora Guanabara Koogan. Riode Janeiro; 1984.
SHAFER, W. G., HINE, M. K., LEVV, B. M.. Tratado de patologia bucal. 4ª
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Editora Livraria Santos. Araçatuba; 1994.
TOMMASI, A. F.. Diagnóstico em patologia bucal. 2ª ed.
Editora Pancast. São Paulo; 1997.
KUCHINSKI, F. B.. Histologia dental e periodontal. 8ª ed.
Graftipo Editora.
GRAZIANI, M.. Cirurgia bucomaxilofacial. 8ª ed.
Editora Guanabara Koogan. Rio de Janeiro; 1995.
NEVILLE, DAMM, ALLEN e BOUQUOT. Patologia oral e maxilofacial.
Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro; 1998.
fonte: www.cispre.com.br
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