INTRODUÇÃO
É indiscutível que a cárie representa a
doença mais prevalente na cavidade bucal, podendo atingir os indivíduos em
qualquer etapa de sua vida. No entanto, a dissolução da estrutura dental
pode ocorrer também pela erosão, que é caracterizada pela perda de mineral
dos tecidos dentários quando a superfície é exposta a ácidos ou quelantes,
de forma sistemática e sem o envolvimento bacteriano (IMFELD, 1996a; TEN
CATE, 2001; SERAIDARIAN; JACOB, 2003).
De acordo com Downer (1995), Nunn
(1996), Costa (1997) e Linnett e Seow (2001), a prevalência de erosão tem
aumentado, sobretudo em crianças e adolescentes, e sua etiologia tem sido
associada ao consumo regular de produtos que apresentam baixo pH endógeno,
elevada acidez e ausência ou pouca quantidade de íons cálcio, flúor e
fosfato em sua composição. Dentre estes produtos, estão os medicamentos
com uma ou mais destas características, o que os torna potencialmente
erosivos quando indicados para o tratamento de doenças crônicas, como é o
caso dos antihistamínicos (TEN CATE; IMFELD, 1996; ZERO, 1996; COSTA,
1997; LIMA; ALMEIDA; SENNA, 2000; ALMEIDA et al., 2003; SERAIDARIAN;
JACOB, 2003). Por estas razões, apesar da necessidade imperativa do uso de
determinadas formulações farmacêuticas para manter a integridade física
dos pacientes, determinados constituintes das mesmas, como os açúcares e
os ácidos, podem representar uma ameaça às estruturas dentárias quando
ocasionam uma queda no pH abaixo de 5,5 que é o valor considerado crítico
para a dissolução mineral dos dentes (JOHNSTON, 1986; DURWARD; THOU, 1997;
COSTA, 1997).
Além do conteúdo de sacarose e dos
componentes ácidos existentes nos medicamentos, outros fatores como: alta
freqüência de ingestão (duas ou mais vezes ao dia), consumo noturno, baixo
pH endógeno, alta viscosidade e efeito colateral de redução do fluxo
salivar podem contribuir significativamente para o aumento da experiência
de cárie e de erosão dental (BJORVATN, 1982; FEIGAL et al., 1984;
JOHNSTON, 1986; DURWARD;THOU, 1997; ALMEIDA et al., 2003). Por isso,
muitas propostas têm sido sugeridas para minimizar os prejuízos trazidos à condição bucal pelo uso
constante de medicamentos pediátricos líquidos. Entre elas, tem-se: uso do
medicamento nas refeições principais e não entre elas (IMFELD, 1996b;
DURWARD; THOU, 1997; SHAW; O’SULLIVAN, 2000), realização de higiene bucal
ou de bochechos com água ou consumo de chicletes sem açúcar após a
ingestão da medicação (IMFELD, 1996b; DURWARD; THOU, 1997; COSTA, 1997;
SHAW; O’SULLIVAN, 2000; LINNETT; SEOW, 2001), acréscimo de cálcio, fosfato
ou flúor às formulações (McDONALD; STOOKEY, 1973; IMFELD, 1996b) e
utilização de agentes fluoretados tópicos (SORVARI et al., 1994; IMFELD,
1996b; COSTA, 1997; MOK; McINTYRE; HUNT, 2001).
Embora a eficácia do íon
flúor quanto à prevenção da
cárie dentária seja amplamente aceita, o mesmo
não ocorre em relação à erosão, visto que ainda se questiona a capacidade
dos tratamentos com fluoretos prevenirem a perda de estrutura dental
resultante do processo erosivo (XHONGA; SOGNNAES, 1973; LARSEN; RICHARDS,
2001; LARSEN, 2001; TEN CATE, 2001). Uma vez que, diferentemente do
processo de formação da lesão de cárie; na erosão, o desafio ácido é muito
maior e após a perda mineral apenas uma fina camada superficial
parcialmente desmineralizada restará para prover estrutura para reposição
mineral (STOOKEY, 1990). Além disso, a estabilidade do fluoreto de cálcio
em condições erosivas ainda é desconhecida, mas acredita-se que este
composto possa disponibilizar mineral adicional para ser dissolvido
durante o ataque ácido antes que o esmalte seja afetado. Assim, supõe-se
que, de forma semelhante às suas propriedades anticariogênicas, o íon
flúor auxiliaria no aumento da resistência dos tecidos dentários contra os
ácidos com ação erosiva e ainda, poderia ser capaz de aumentar a dureza da
superfície de esmalte erosionada (ROLLA; OGAARD; CRUZ, 1991; CURY, 1991;
GANSS et al., 2001).
Tendo em vista a ingestão
freqüente de formulações farmacêuticas por pacientes com problemas
crônicos e a possibilidade destas causarem erosão dental, esta pesquisa in
vitro teve como objetivo avaliar a ação do Claritin D Xarope com alto teor
de sacarose, baixo pH endógeno e elevada acidez sobre o esmalte de molares
decíduos submetidos ou não a aplicações diárias de dentifrício fluoretado.
CONCLUSÕES
A metodologia empregada e os resultados
observados permitiram concluir que:
As durezas médias finais dos subgrupos
que receberam aplicação do Claritin D Xarope (E1 e E3) foram
estatisticamente inferiores a do subgrupo controle (C1), sendo esta
situação amenizada pela solução de dentifrício fluoretado e água
destilada, uma vez que os subgrupos que receberam aplicação tópica de
fluoreto (C2, E2 e E4) tiveram durezas médias finais estatisticamente
superiores as dos subgrupos homólogos sem fluoretação (C1, E1 e E3).
Nas fotomicrografias dos subgrupos
expostos somente ao Claritin D Xarope (E1 e E3) prevaleceu a erosão no
esmalte interno e na zona de transição entre esmalte profundo e dentina.
Nos subgrupos que receberam aplicação tópica de íon flúor (E2 e E4), a
erosão ocorreu, sobretudo, no esmalte superficial de forma parcial ou
total.
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