Pacientes Especiais
Paciente
Especial: Condicionamento na Odontologia
Roberto ELIAS* - Carmen ELIAS**
Resumo
Os autores descrevem métodos junto ao paciente com necessidades especiais,
sob o aspecto psicológico no tratamento odontológico, na sua prática
diária, como método alternativo para pacientes de difícil de controle.
Unitermos:condicionamento, paciente especial, modificação
comportamental
Abstract
This author's describes methods close to the special patient, under the
psychological aspect in the treatment odontológico, in her daily practice,
as alternative method for patient special of difficult control.
Key-words: psychological aspects, handicapped patient, behavior
modification.
* Presidente CISPRE
** Coordenadora Geral CISPRE
1. INTRODUÇÃO
Estamos vivendo em um período na historia da humanidade, na qual os
avanços na área da medicina são freqüentes. Na última década, avanços nos
recursos diagnósticos, diretrizes de assistência à saúde e técnicas
cirúrgicas têm possibilitado que mais e mais crianças e adultos não apenas
sobrevivam, atingindo longevidade, obtendo uma melhora na qualidade de
vida. Não poderia deixar de acoplar a essa melhoria a qualidade de
atendimento preventivo e curativo na estomatologia.
A saúde bucal perfeita em controle sempre é importante para o bem estar
físico dos pacientes clinicamente comprometidos (Pacientes com
Necessidades Especiais) contribuindo para o sucesso de uma melhora na
qualidade de vida.
Por muitas vezes o cirurgião-dentista fazendo parte de um contexto
interdisciplinar se vê as voltas com pacientes que estão longe de uma
cooperação mesma que mínima, no que se refere ao tratamento odontológico a
nível ambulatorial.
Segundo MAIA et al. (1996)(7) a responsabilidade do profissional de
odontologia neste aspecto de condicionamento é grande: ele tem um papel
importante na educação dos pacientes jovens e deveria ajuda-los a lidar
com suas ansiedades, ajustando-as ao nível apropriado para cada paciente e
a cada situação.
2. CONSIDERAÇÕES COMPORTAMENTAIS JUNTO AO PACIENTE ESPECIAL
ELIAS (1995)(3) relata que profissionais que atendem
pacientes especiais e odontopediatria, tem obtido muito sucesso em acalmar o medo e a ansiedade,
criando uma relação de confiança com seu paciente de que tratam. A ciência
por detrás desse sucesso apenas recentemente tem sido estudada na
literatura psicológica. Dentre os preceitos no tratamento odontológico, o
profissional com habilidade, precisa primeiro aprender a reconhecer o
perfil psicológico relacionando com a idade cronológica e cognitiva do seu
paciente.
LOWEY (1998)(6) argumentou que medidas de comportamento e personalidade
são "inexatas e controversas", havendo teorias a respeito do
desenvolvimento da personalidade.
KALTENBACH (1999)(5) relatou que o compreender e interpretar a
personalidade do paciente seja fundamental em relação de confiança entre o
cirurgião-dentista, paciente e família.
3. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DA CRIANÇA AO ADOLESCENTE
3.1. Do Nascimento aos Dois Anos de Idade - os lactentes iniciam seu
desenvolvimento psicológico como centro do universo, porém totalmente
dependentes dos outros para suas necessidades, não devendo esperar a
cooperação dos lactentes na questão odontologia, segundo Anderson,
1998.(2)
3.2 Dois Anos de Idade - neste estágio, querem fazer as coisas sozinhas,
preferem brincar solitariamente, não dividindo seu espaço. Habitualmente
são muito ligados a seus pais, apresentando medo de estranhos, de sons
altos, de movimento brusco e de quedas. Não gostam de ver e tocar as
coisas, sendo o consultório odontológico um habitat com muitos objetos que
precisam ser mostrados (ANDERSON 1998). (2)
3.3 Três Anos de Idade - são grandes faladores, gostam de ouvir e contar
estórias, embora ainda estejam muito ligados aos pais, gostam de agradar e
reagem positivamente a qualquer reforço dado (LOWEY 1998).(6)
3.4 Quatro Anos de Idade - são freqüentemente agressivas e tentam liderar
impondo a sua vontade sobre os outros. São com freqüência menos
cooperativos nas consultas odontológicas do que as de três anos de idade.
São curiosas e utilizam suas perguntas para adiar o tratamento, apresentam
medo do desconhecido (ANDERSON, 1998).(2)
3.5 Cinco Anos de Idade - normalmente brincam cooperativamente com
curiosidade, sendo habitualmente receptiva durante o tratamento .
Elogiá-las em seus valores e realizações são muito importantes (KALTENBACH,
1999).(5)
3.6 Seis Anos de Idade - nessa idade o convívio de universo se torna
maior, há demandas competitivas, com confinamento ou restrição de
atividades. É um período de alterações psicológicas, sendo incansável e
não toma decisões facilmente. Pode encarar o tratamento como uma punição
para os sentimentos de possessividade em relação ao genitor do sexo
oposto. Pode apresentar acessos de raiva temperamental de difícil
controle. Seu comportamento pode ser explosivo ou imprevisível (ELIAS,
2002).(4)
3.7 Sete Anos de Idade- seu pensamento é concreto, utilitário e associado
a eventos cotidianos. Gostam de contar aos adultos o que estão aprendendo
ou fazendo. A interação com o cirurgião-dentista pode ter início em
perguntas sobre a escola ou de suas experiências lúdicas. Apresenta ainda
ansiedade e medo do tratamento (ELIAS, 2002).(4)
3.8 Adolescente - Freud caracteriza o adolescente como "ansiedade, o peso
do orgulho ou a profundidade do desespero, o entusiasmo rapidamente
crescente, a total desesperança, a preocupação filosófica e intelectual
ardente ou algumas vezes estéril. Respeitando-os como indivíduos
completos, buscando conhece-los e compreendê-los, pode-se evitar
comportamento rancoroso e não cooperativo de muitos adolescentes (ELIAS,
2002)". (4)
Cabe a nós, darmos ênfase que a idade cronológica por muitas vezes em
pacientes especiais foge literalmente da idade mental, assim o
cirurgião-dentista deve ter a sensibilidade e compreensão técnica e
científica de tentar enquadrar o seu paciente na faixa mais adequada,
associando o estado mental e a idade cronológica.
4. FASES DE CONDICIONAMENTO DO PACIENTE
4.1 Consentimento - os responsáveis pelo paciente clinicamente
comprometido devem ser esclarecido das metas e obstáculos a serem
ultrapassados com o intuito de dar saúde oral ao paciente.
4.2 Aperfeiçoamento de Comunicação
4.2.1 Linguagem e Expressão - um item de suma importância, no qual muitos
profissionais a luz do paciente se tornam ridículos e exageram na sua
linguagem, exemplo: queridinho, que gracinha, filhinho
4.2.2 Comunicação não Verbal - todos nós comunicamo-nos através de gestos,
postura, movimentos, expressão facial, contato físico entre outras formas.
Assim, deve-se utilizar o máximo possível esta técnica junto ao paciente,
o toque, muitas vezes, vale mais do que a palavra dita.
4.2.3 Controle da Tonalidade da Voz - alterações controladas de volume,
tom ou cadência da voz podem influenciar positivamente ou negativamente
junto ao estado comportamental do paciente.
4.2.4 Falar - Mostrar - Fazer - uma técnica muito utilizada em
odontopediatria e em pacientes especiais. Deve ser adaptada a cada
situação comportamental, dependendo de cada momento e condições física do
paciente.
5. TÉCNICAS ALTERNATIVAS
5.1 Ludoterapia: a arte de brincar, transferindo seus anseios, vontades,
expressões através de brinquedos didáticos e psicológicos.
5.2 Cromoterapia: as cores apresentam influência positiva ou negativa. O
cirurgião-dentista que trabalha com pacientes especiais e domina esta
técnica apresenta uma grande vantagem sobre os demais.
5.3 Musicoterapia: técnica para auxilia fundamental, no condicionamento
desses pacientes, porém lembramos que não devemos realiza-la de forma
empírica.
5.4 Hipnose: utilizada para auxiliar junto a pacientes que apresentam
compreensão e colaboração, porém com fobias ao tratamento.
5.5 Arte: conceito muito atual, onde pacientes são submetidos a seções de
arte plástica (pintura, colagem) momentos antes de sua consulta
propriamente dita ao cirurgião-dentista.Há a tentativa de se estabelecer
um momento de abstração e relaxamento para no ato do tratamento obtermos
um melhor desempenho.
5.6 Restrição Física: técnica de restrição de movimentos voluntários ou
involuntários dos pacientes através de mecanismos como: papoose board,
pediwrup ou mesmo macri e lençóis com uma série de técnicas preconizadas
no mundo inteiro como por exemplo de envelopamento.
5.7 Sedação Oral Consciente: controle comportamental através de drogas no
auxilio do tratamento.
Figura 1: Condicionamento com auxilio da Ludoterapia
6. ESTRUTURA DE ATENDIMENTO
A mais utilizada por nós é a interdisciplinaridade agregada a ludoterapia
em todas as seções, a técnica falar-mostrar-fazer, cromoterapia e artes,
estão sempre presentes em nosso atendimento diário.
Acreditamos ser de suma importância, o condicionamento em um primeiro
plano. O inicio do trabalho se dá com aos familiares, onde deverá existir
uma interação completa. Após o contato e sensibilização dos responsáveis,
é que daremos início, junto ao paciente especial, ao seu tratamento. Desta
forma, percebemos uma maior concordância e colaboração com o planejamento
odontológico proposto.
Como colaboração aos profissionais, que se interessam pelo assunto em
pauta, extraímos este quadro abaixo (Fonte Medline) da Academia Americana
de Odontologia (1999)(1), que serve como orientação no seu condicionamento
junto ao paciente especial.
Tabela 1. Resumo do protocolo de atendimento estomatológico
Paciente quer Ajudar: Guarde essa máxima em mente
Estabeleça comunicação
Converse ao nível do paciente
Mostre que é seu amigo
Encoraje-o, dê suporte de apoio
Paciente tem Medo Inato, Especialmente do Desconhecido:
Envie informações ao paciente antes da consulta - sala de espera
Estruture a consulta: mostre o que vai ser feito e diga quanto tempo vai
demorar
Converse com o paciente de assuntos não odontológicos
Aplique técnicas alternativas
Forneça ao paciente algum controle, permita-o fazer algumas perguntas
Paciente Tímido:
Proceda vagarosamente e fale tranqüilamente
Dê tempo dele responder suas solicitações
Fale-mostre-faça
Paciente Testador:
Tentam buscar seus limites
Seja firme e consistente
Nunca perca a calma
CONCLUSÃO
Quando citamos que nossa margem de pacientes com necessidades especiais,
que eram submetidos ao tratamento odontológico sob anestesia geral está em
torno de 3%, vemos com satisfação que técnicas já preconizadas e
alternativas são de extrema utilidade, pois a princípio todo paciente é
cooperativo ou apresenta um potencial de cooperação, cada um a seu nível
de compreensão, o cirurgião-dentista que se dedica ao tratamento do
paciente especial tende cada vez mais a procurar caminhos alternativos na
busca de não fazer o seu paciente dependente da anestesia geral para um
tratamento odontológico, a prevenção, a interação profissional
paciente-família traz um fator a mais a esses pacientes que por muitos
anos foram esquecidos em todos os seus níveis, e a odontologia para
pacientes especiais nesses últimos anos vem se firmando como uma
especialidade latente e respeitada por todas as equipes
interdisciplinares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. American Academy of Pediatric Dentistry: Standards of care for behavior
management. American of Pediatry Dentistry, Chicago, v.5, n.3, p.29-45,
1995
2. ANDERSON, K.O. Psychological preparation for invasive medical and
dental procedures. J Behav Med, v 9,n.8, p.76-82, 1998
3. ELIAS, R. Odontologia de Alto Risco - Pacientes Especiais, ed. REVINTER,
Rio de Janeiro, 1995,p.189.
4.________________, Odontologia e os Pacientes Especiais, J Brasil, RJ
nov, p.6, 2002
5. KALTENBACH R.F. Psychological aspects of pain. J Dent Pediatric,
Houston, USA v 6, n.4,p.67-9,
6. LOWEY G.H. Growl and development of children, ed. 8, Year Book Medical,
Chicago, p. 456-79, 1998.
7. MAIA, M.E.; CORRÊA, M.S.; FAZZI. R.: Estratégias de Conduta Clínica e
Psicológica em Odontopediatria - RBO, Rio de Janeiro, março /abril - p.
41-4 ,1996
fonte: www.cispre.com.br
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