Doença de Paget e Síndrome de
Gardner - Seu interesse para a Odontologia: diagnóstico e conduta
PEREIRA, P. M. JR; SANTOS, S. M.; SODRÉ, N.
Disciplina Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial - UNIVERSO
Doença
de Paget e Síndrome de Gardner - Seu interesse para a Odontologia:
diagnóstico e conduta
RESUMO
Neste artigo os autores fazem uma revisão da literatura sobre a Doença de
Paget, uma desordem crônica focal que ocorre quando o processo normal de
remodelação óssea perde o controle, sendo caracterizada por reabsorção
óssea excessiva, seguida por formação exagerada do osso e sobre a Síndrome
de Gardner uma patologia autossômica dominante caracterizada pelo
desenvolvimento durante a infância ou adolescência de centenas a milhares
de pólipos adenomatosos em cólon associada a tumores benignos de partes
moles (como fibromas e cistos epidermóides), osteomas (incluindo lesões
ocultas de mandíbula), e tumores desmóides. Levando em consideração a
importância do cirurgião-dentista no diagnóstico precoce dessas doenças,
em vista de seu comprometimento bucal.
ABSTRACT:
In this article the authors make a revision of literature about the
Illness of Paget, a focal chronic clutter that occur when the normal
process of bone remodelling loses the control, being characterized by
extreme bone reabsorption, followed by exaggerated formation of the bone
and on the Syndrome of Gardner a dominant autossômica pathology
characterized by the development during the infancy or adolescence of
hundreds the thousand of adenomatosos polyps in colon associated to the
benign tumors of soft parts (as fibromas and cysts epidermises), osteomas
(including jaw injuries occult), and tumors desmoids. Taking in
consideration the importance of the surgeon-dentist in the precocious
diagnosis of these illnesses, in view of your buccal compromissing.
PALAVRAS-CHAVE: Doença de Paget; Síndrome de Gardner.
Alunos do curso de Odontologia da Universidade Salgado de Oliveira –
UNIVERSO-Brasil*.
INTRODUÇÃO
Doença de Paget
Foi primeiramente descrita por Sir James Paget em 1877, sendo um distúrbio
localizado da remodelação óssea, que atinge tanto homens quanto mulheres e
cujo diagnóstico quase sempre é feito após 50 anos3. A osteíte deformante
é uma doença óssea conhecida há muitos anos, pelo menos desde o relato
original por Paget em 187710. Sir James Paget, em Londres descreveu cinco
casos de uma desordem óssea deformante, de progressão lenta que denominou
de osteíte deformante11.
Síndrome de Gardner
Ela foi descrita originalmente como uma tríade: 1) Polipose adenomatosa do
cólon, 2) Osteomas de crânio e mandíbula, 3) Cistos epidermóides. Desde a
descrição original da Síndrome, feita por C. L. Gardner em 1953, a tríade
tem sido expandida para incluir anormalidades de tecidos variados2.
REVISÃO DE LITERATURA
Doença de Paget
A etiologia da Doença de Paget continua até hoje mal esclarecida. Os
autores ressaltam que há um significativo componente genético, pois até
40% dos pacientes apresentam antecedentes familiares, sugerindo um padrão
de herança autossômico dominante3. A etiologia da doença ainda não está
totalmente esclarecida, porém atualmente acredita se em uma infecção viral
latente em osteoclastos de uma pessoa geneticamente susceptível associada
a um fator desencadeante desconhecido11.
A causa da mesma ainda é desconhecida, porém fatores inflamatórios,
genéticos e endócrinos podem ser agentes contribuintes7.
A doença atinge mais os homens que as mulheres, por uma proporção de 3:2.
É a segunda doença do osso mais comum nos EUA, abrangendo 3% da população
com mais de 60 anos de idade, sendo dificilmente diagnosticado nas pessoas
abaixo de 40 anos11.
A Doença de Paget foi dividido em três fases: Fase de reabsorção inicial –
intensa osteólise, normalmente envolvendo ossos longos como fêmur, tíbia e
crânio; Fase vascular com reparação osteoblástica – estágio misto, onde a
reabsorção e a formação óssea estão associadas com o crescimento de tecido
fibroso altamente vascularizado; Fase esclerosante aposicional – osso
cortical e trabecular invadem a medula óssea1.
As características radiográficas da osteomielite deformante são variadas e
dependem do estágio em que a doença se encontra. As áreas osteoblásticas
que aparecem na radiografia como opacidades, tendem a apresentar
distribuição focal, sendo denominados flocos de algodão.
A maioria dos casos são assintomáticos e descobertos inicialmente por
exames realizados ou achados de níveis de fosfatase alcalina elevados.
Pode ocorrer dor óssea e enrijecimento nas articulações adjacentes à área
acometida. Sintomas decorrentes de complicações da doença, incluem
deformidades, fraturas, compressão de nervos cranianos, insuficiência
cardíaca e tumores ósseos primários como o osteossarcoma 7,8.
A maxila é cerca de duas vezes mais afetada por essa doença do que a
mandíbula. Pode ocorrer um aumento dos rebordos alveolares, com
conseqüente achatamento do palato, assim como mobilidade dentária
resultando no aparecimento de diastemas6 9. A escassez de relatos de
osteíte deformante nos ossos da face, em especial na maxila e na
mandíbula, pode decorrer da falta de investigação da doença nestes
ossos11.
As complicações durante procedimentos odontológicos quando há envolvimento
da maxila e da mandíbula devem ser ressaltados. Durante exodontias,
hipercementose e anquilose podem causar complicações durante o ato
cirúrgico e complicações pós-operatórios, como sangramento excessivo e a
cicatrização prejudicada. O uso de anestesia geral durante exodontias é
mais freqüente em pessoas com Doença de Paget, evitando-se assim o uso de
anestésico local com vasoconstrictor na presença de osso esclerótico
permitindo uma melhor cicatrização do alvéolo11.
Síndrome de Gardner
A síndrome de Gardner é uma desordem rara que é herdada como um traço
autossômico dominante com quase 100% de penetrância. Aproximadamente um
terço de casos acontece espontaneamente e parece representar mutações
genéticas novas7. A síndrome ocorre devido a um único gene pleotrópico e
tem um padrão de hereditariedade autossômico dominante com penetrância
incompleta e expressividade variável10.
A incidência da síndrome é de 1/5000 – 1/6000 nascimentos. Pode ocorrer em
qualquer idade e tem sido relatada tão cedo como nos 2 anos de idade e tão
tarde quanto nos 70 anos. Ambos os sexos são igualmente afetados9.
As primeiras manifestações da síndrome ocorrem nos tumores periféricos de
epiderme e ossos (1ª e 2ª década). Os tumores de pele e partes moles são
múltiplos, podendo acontecer em qualquer parte do corpo. Tumores ósseos se
localizam preferencialmente em ossos do crânio e da face2.
Os pólipos extracólon no intestino delgado ou no estômago não são raros,
com uma porcentagem pequena apresentando transformação carcinomatosa6.
Cerca de 90% dos pacientes com síndrome de Gardner demonstram
anormalidades de esqueleto, sendo os osteomas mais comuns aparecendo como
áreas de radiodensidades. Podem ser séssis e/ou pediculados, e sua
sintomatologia é variável4 6.
Embora os osteomas possam afetar qualquer parte do esqueleto, as áreas
mais comumente envolvidas são o crânio, os seios paranasais e a
mandíbula7. Esses tumores podem levar ocasionalmente ao aparecimento de
dores de cabeça, sinusite recorrente e queixas oftálmicas, dependendo de
sua localização. Quando as lesões gnáticas são observadas, elas ocorrem
freqüentemente na região do ângulo mandibular e são geralmente associadas
com importante deformidade facial. Em algumas ocasiões, os grandes
osteomas da mandíbula ou côndilo limitam a abertura mandibular.
Anormalidades dentárias incluem uma prevalência aumentada de adenomas,
dentes supranumerários e impactações de dentes8.
DISCUSSÃO
A Doença de Paget do osso apresenta curso benigno na maioria dos casos. No
entanto, a Síndrome de Gardner apresentam índices maiores de malignidade7.
Autores estudaram 280 pacientes de 11 famílias com síndrome de Gardner,
onde puderam verificar que 126 (45%) apresentavam risco, tendo parte da
síndrome significativamente10.
A Doença de Paget apresenta características de dor, deformidades ósseas e
possível degeneração maligna que preocupam o profissional e angustiam o
paciente11. Os autores ressaltaram que os ossos acometidos por essa doença
apresentam alterações estruturais e funcionais que se tornam incapazes de
sustentar as demandas fisiológicas em ossos longos do esqueleto o
principal problema é a fratura patológica. Nos maxilares, entretanto, a
infecção é a causa mais freqüentes de complicações. Desta forma torna-se
fundamental ao cirurgião dentista conhecer as implicações do tratamento
odontológico, pois a maioria dos procedimentos (principalmente cirurgias)
promovem uma bacteremia transitória.
O principal problema para a Doença de Paget é a alta taxa de transformação
maligna dos pólipos intestinais em adenocarsinoma invasivo. Essa
transformação se aproxima de 100% em pacientes mais idosos7.
O tratamento da Doença de Paget do osso “freou” a remodelação óssea, e os
bifosfanato tem sido a droga mais utilizada para este fim. O seguimento
ambulatorial em longo prazo do paciente, incluirá exames clínicos,
laboratoriais e de imagem. E o intercâmbio dentista – endocrinologista
será fundamental visando uma melhor condição de vida a este paciente.
Na Síndrome de Gardner a colutomia profilática é recomendada. A remoção de
osteomas dos maxilares e dos cistos epidermóides, e realizada por razões
cosméticas, às vezes podem ser indicadas, mas o prognóstico a longo prazo
depende do comportamento do adenocarcinoma de intestino.
CONCLUSÃO
Doença de Paget
- A maioria dos casos são assintomáticas e descobertas inicialmente por
exames realizados rotineiramente na clínica. Pode ocorrer também dor óssea
e enrijecimento nas articulações adjacentes a área acometida, sendo de
suma importância que o cirurgião dentista esteja atento as características
radiográficas da lesão.
- Alguns sintomas decorrentes de amplificações da doença incluem
deformidade, fraturas, compressão de nervos cranianos e osteossarcoma.
- A maxila é cerca de duas vezes mais afetada por essa doença do que a
mandíbula. O aumento do rebordo alveolar promove o achatamento do palato,
assim como mobilidade dentária, resultando no aparecimento de diastema.
Síndrome de Gardner
- Esta doença é de interesse para a odontologia, pois os dentes inclusos e
os osteomas dos maxilares podem levar ao diagnóstico precoce da síndrome,
já que a maioria dos pacientes com a mesma não irão exibir o espectro
completo da expressão clínica da doença. Logo, a presença de osteomas
múltiplos dos maxilares e osso da face, pode levar algum profissional à
investigar a possibilidade de se obter a síndrome.
- É importante e necessário ter conhecimento do quadro clínico da
síndrome, para evitar que casos passem despercebidos.
- A conduta clínica adotada no tratamento deverá ter enfoque
multidisciplinar, ocorrendo tratamentos cirúrgicos e oncológicos.
- Para que se possa caracterizar a síndrome é necessária a investigação
completa dos casos, bem como a validade de investigação familiar e
segmento em cada paciente.
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FONF Ciências – Revista da Faculdade de Nova Friburgo, v.4, n° 1 – jan/jun
– 2004. |