Noções de custo em Odontologia
Antônio Inácio RIBEIRO (*)
INTRODUÇÃO
Sua importância na administração do consultório
prende-se ao fato de ser uma das determinantes do resultado
financeiro deste ou da clínica odontológica (a outra são as
receitas). Todos nós somos inclinados, quase como uma inércia de
movimento, a variar (aumentando, sempre) os custos na medida em que
a receita aumenta. Há que se dimensionar proporcional e
prioritariamente os custos em sua elevação de tal forma que não
tenhamos comprometimento do resultado líquido.
Em nível de consultório, que é uma organização
pequena em se tratando da composição de custos, a regra básica é que
o profissional conheça e controle os itens que geram seu custo. O
simples fato de conhecer todos os fatores geradores, tê-los por
escrito e acompanhar suas variações, já é bom procedimento no
controle dos custos. É importante também que os classifique e
qualifique, atribuindo e ordenando sua importância e necessidade. Os
custos, de uma maneira geral, podem ser fixos e variáveis.
CUSTOS FIXOS
São aqueles que independem do funcionamento ou
geração de receita, trabalhando ou estando de férias, percebendo
muito ou pouco por seu trabalho, eles são obrigatórios. São custos
difíceis de serem alterados de imediato, pois normalmente são
contraídos a médio e longo prazo. |
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Dentro dos custos fixos de um consultório, podemos
destacar a título de exemplos: aluguel ou amortização de imóvel;
salário e encargos sociais decorrentes; impostos (não variáveis do
tipo predial e territorial); depreciação de equipamentos e aparelhos
e seus encargos de manutenção; contribuições obrigatórias a órgãos
de classe (CRO, Associação e Sindicato); as taxas mínimas de
telefones, água e eletricidade, como os mais importantes.
Normalmente alguns custos fixos são os maiores,
implicam ao profissional compromissos de maior monta, como a compra
de um conjunto ou casa, troca do equipamento, aquisição de um
computador. Afora o fato de serem os de maior monta, não podem ser
lançados ao livro caixa como despesa. Pela legislação só podem ser
amortizados ao percentual de 10 % ao ano. Em caso de aumento de
produtividade, eles permanecem constantes, como podemos observar no
exemplo que será apresentado.
Sua característica é a diminuição na participação
percentual à medida que a receita vai tendo acréscimos, pela
permanência constante dos valores do custo fixo.
CUSTOS VARIáVEIS
São os que flexionam em função da produtividade.
Quanto mais o profissional trabalhar, tanto maiores eles serão. Por
outro lado eles podem ser alterados com maior facilidade,
diferentemente dos custos fixos, e programados por períodos ou
prazos mais curtos.
Nos custos variáveis de um consultório ou clínica,
dentre outros, podemos enumerar os seguintes: despesas com materiais
dentários em geral, serviços de protético, impressos, material de
limpeza e escritório, variações no uso do telefone, no consumo de
energia, etc.
Via de regra, se comparados aos custos fixos, em
condições normais, os custos variáveis são menores. Podemos
exemplificar sua variação de acordo com a produtividade.
Alguns, por sua participação percentual irrelevante,
não precisam ser alvo de maiores cuidados. Por exemplo, material de
limpeza. Outros, de acordo com o tipo de serviço, devem ser objeto
de um critério maior. É o caso dos custos com protético que podem
ultrapassar a casa dos 10 %.
Devem merecer atenção especial aqueles que possam
significar participação percentual expressiva como podem ser, por
exemplo: imposto de renda, que podem variar entre 20 e 30 % ou mais;
juros de empréstimo, cheque especial ou cartão de crédito, que
igualmente podem oscilar em taxas acima de 10 %.
PONTO DE EQUILÍBRIO
É o momento em que, dentro de um período (por
exemplo, o mês), as receitas se equilibram com as despesas. A partir
daí, o profissional passa a ter lucro. Para que o Cirurgião Dentista
conheça o ponto de equilíbrio de seu consultório, ele precisa ter um
domínio dos valores de custo, tanto fixos como variáveis do período.
Em consultórios pequenos e de receitas não muito elevadas, o ponto
de equilíbrio é facilmente atingido e não requer muitos cálculos
para ser determinado.
Nas clínicas de envolvimento maior com pessoal,
aluguel, protético, assistentes, materiais e outras despesas grandes
o ponto de equilíbrio passa a ter uma significação maior, devendo
ser objeto de acompanhamento sistemático. Como a Odontologia é uma
prestação de serviços e os globais não são muito expressivos, boa
parte dos Cirurgiões Dentistas não dispensam muita atenção ao ponto
de equilíbrio.
BALANCETE
É uma modalidade simples e segura de o profissional
ter, mensalmente, uma posição da parte financeira de sua clínica ou
consultório.
Para sua elaboração simples, bastam dois componentes:
ativo e passivo. Para melhor entendimento, apresentaremos como estão
compostos, de forma simples, cada um dos dois.
Através de uma planilha o profissional, com dados do
livro caixa pode, facilmente, avaliar com segurança a sua situação
em um dado momento ou em um determinado período.
LIVRO CAIXA
Em caso do livro caixa ser registrado ou se o
profissional tiver optado por não registrá-lo como lhe faculta a
legislação, é importante tê-lo. Não somente pelas variações de custo
ele pode ser útil, mas também pelas oscilações da receita.
Quando o volume de lançamentos for pequeno, seus
apontamentos podem ser facilmente executados pela auxiliar. Nas
situações em que o movimento em lançamentos for maior é recomendado
lançar mão dos serviços de um contador. Os bons profissionais não
devem abrir mão do livro caixa como forma de controle do seu
movimento.
CONTROLE DE CUSTOS
O simples fato de se acompanhar e anotar as despesas
já é uma forma de diminuir os custos. O ato de organizar as despesas
é, por si só, perante o pessoal auxiliar e perante si mesmo, uma
maneira de disciplinar e minimizar os custos.
Controlar o estoque de materiais é uma tarefa que
pode ser simples. Adquirem-se fichas de controle de estoque em uma
papelaria. Abre-se uma ficha para cada material que tem consumo
sistemático e em maior escala. Lança-se a data da compra, do uso e
de seu término.
Alternativa às fichas de controle em clínicas de
menor movimento ou baixo consumo de material é adquirir o hábito e
praticar a anotação em todos os materiais de maior consumo, na caixa
ou na etiqueta do vidro, a data de sua compra e ou o início de sua
utilização. Esta informação poderá ser complementada com a anotação
do preço pago pela mesma. Se a atendente codificar as compras com a
colocação das caixas e vidros dos produtos que terminaram em sua
gaveta ou local apropriado, ao fazer o novo pedido terá idéia de
variação no preço se houver e, de acordo com o aumento, buscar outro
fornecedor e preço menor. São práticas simples que dependem
exclusivamente de adquirir hábito, além de controlar e motivar a
pessoa encarregada a fazê-lo. Com certeza estas pequenas iniciativas
geram economias e dão controle de custos.
O hábito de ter uma caixa de reserva de todos os
materiais evita a necessidade de fazer um pedido com urgência ou às
vezes ter que buscar determinado material, gerando um custo
adicional é um exemplo simples de como se podem reduzir custos, sem
gerar despesas adicionais.
O controle e organização das contas a pagar em
arquivo próprio (o ideal para o CD é aquele do tipo sanfona com
numeração de 1 a 31). Toda mercadoria ou serviço deve ter sua nota
fiscal colocada no arquivo de pagamento. No momento da chegada do
boleto para pagamento, retira-se a nota fiscal e o coloca-se em seu
lugar. Este é outro exemplo de como é simples controlar custos em um
consultório ou clínica odontológica. O seu descontrole gera multas e
juros, que aumentam desnecessariamente os custos e, algumas vezes,
podem prejudicar a imagem do profissional.
A compra de equipamentos e aparelhos com certeza é
benéfica a um profissional. A decisão do momento certo para comprar
um aparelho, trocar o equipamento ou comprar outra sala, pode evitar
despesas adicionais como excesso de encargos financeiros em sua
aquisição no caso de compra a prazo, quando é sabido que com o
dinheiro na mão, não só se consegue negociar melhor, bem como se
obtém sempre melhores preços (e menores custos).
Existe a alternativa de locação de uma das salas de
uma clínica hiperdimensionada momentaneamente em sua área, a um
fonoaudiólogo, psicólogo, otorrino ou oftalmologista que pode ser
além de uma redução de custos, uma estratégia de marketing por gerar
um novo público à clínica, de uma área correlata e não interferente.
A alternativa de aluguel de uma sala complementar, provisoriamente,
em virtude de necessidade de espaço e impossibilidade de mudança no
momento, pode ser um erro de planejamento, gerando custos extras
(administrativo do aluguel, taxa mínima de água, esgoto e energia,
condomínio, etc) e um entrave para a mudança definitiva em função
das diferenças de datas para encerramento do contrato.
O aproveitamento melhor do horário disponível por
meio de um atendimento mais racionalizado, usando profissionais de
especialidades necessárias à complementação do trabalho odontológico
(endo, perio, orto) em alternância de horários vagos de um
equipamento e o uso de pessoal auxiliar qualificado (THD, por
exemplo), gera uma receita maior e, por conseguinte, diminui os
custos como vimos em sua composição.
Pagando em dia os encargos sociais (INSS, FGTS,
IMPOSTO DE RENDA, etc.) evitando multas e juros, o profissional está
diminuindo custos, porque, no caso de recolhimentos em atraso,
normalmente, demanda a presença de uma fiscalização acarretando
perda de tempo e novas multas. Os encargos sociais, pelo que
representam na folha de pagamento, também são importantes na
composição dos custos e muitas vezes esquecidos.
Em síntese, todo o custo bem administrado é pequeno
em prestação de serviço e não compromete o resultado líquido. Um
custo que não é muito utilizado pelo Cirurgião Dentista e que, nos
tempos modernos, tem tido vital importância no resultado de outros
negócios é a propaganda. Por entendermos que a propaganda é um
investimento que traz retorno, ela gera aumentos de faturamento, o
que ajuda a diminuir os custos variáveis.
EVITANDO PREJUÍZOS
Idéia prática para um custo de pequena monta e
resultados preventivos quanto a perdas por não recebimento é
contatar entre seus clientes ou amigos, um que tenha loja e seja
vinculado a Associação Comercial, para nos casos de orçamento de
maior valor, em clientes desconhecidos e que esteja pleiteando
pagamentos parcelados, pedir a este para que consulte o SPC (Serviço
de Proteção ao Crédito), verificando se aquele candidato a cliente
não está negativado (deve algo na praça). Esta camaradagem pode ser
alvo de troca de gentilezas e vantagem especial quando de algum
orçamento de amigos ou familiares deste que de quando em vez, faz a
gentileza.
Outra alternativa, na impossibilidade da acima é
contatar o gerente da sua conta no banco e, munido do CPF do
candidato a paciente, consultar se este não está incluído no
cadastro de emitentes de cheque sem fundo. Ter cuidado de não
mencionar as fontes ao comentar com o novo paciente, visto estas
serem consultas sigilosas. Expor simplesmente que por tratar-se de
cliente novo o pagamento deverá ser efetuado a vista, na
eventualidade de o cliente ter situação negativa.
(*) Doutorando em Marketing pela ULR – Espanha, MBA em Marketing
pelo ISAE da Fundação Getúlio Vargas, Especialista em Marketing pela
PUC – PR, Pós-graduado em Marketing pela ADVB – SP, Administrador
pela Universidade Mackenzie – SP, autor de 25 livros, tendo já
publicados mais de 700 artigos e colunas, sendo 200 no Brasil e 500
no exterior, ministrador de mais de 200 cursos, aulas e palestras.
ribeiro@odontex.com.br
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