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Dentes limpos, pulmões claros

Fotos Alfredo Franco / Montagem Rogério Maroja


 
O caminho inverso também
é possível: problemas respiratórios associados,
como uma sinusite acompanhada
de rinite, favorecem
a instalação
dos germes causadores
da gengivite

 




Estudos recentes mostram que bactérias abundantes na boca de quem descuida da escovação causam doenças pulmonares, entre outros problemas

Por Regiane Monteiro

Sorrir amarelo – dos males o menor para quem não dá muita pelota para a higiene dos dentes. Uma boca bem limpa espalha saúde por órgãos que, à vista dos leigos, parecem não ter nada a ver com a dentição. Mas têm. Estudos mostram que a escovação em dia – aliada ao uso disciplinado do fio dental – pode evitar osteoporose, infecções respiratórias, problemas do coração e até parto prematuro. A conexão boca-corpo, como esse elo é chamado, nunca foi tão pesquisada. O trabalho mais recente é assinado pela Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, onde médicos e dentistas provaram a relação entre uma limpeza malfeita das gengivas e a doença pulmonar obstrutiva crônica. Esta, nos pulmões, mata 2 milhões de indivíduos por ano ao redor do planeta.

As bactérias perambulam pelo sangue até alcançar os brônquios

O trabalho americano analisou 13 792 pessoas acima de 20 anos e que exibiam pelo menos seis dentes na boca. Gente mais desdentada do que isso foi descartada de cara, portanto. Na amostragem, os cientistas constataram que sofria mais de moléstias respiratórias – incluindo aí a pneumonia e o enfisema – quem tinha a saúde dentária mais comprometida, o que era revelado pelo sangramento da gengiva ou, ainda, pelo mau estado de conservação da arcada.

Embora o cigarro seja o grande vilão de 90% dos episódios de doença pulmonar, os micróbios que perambulam pelas mucosas da boca têm papel relevante nesse cenário. Eles caem na corrente sangüínea e, por meio dela, alcançam os brônquios. Logo se instalam na nova moradia. Assim, agravam uma inflamação já iniciada – causada pela fumaça do cigarro ou pela poluição, por exemplo. Esse pode ser o empurrão fatal.

"Essa infecção causa a degeneração dos brônquios. As complicações nessa área costumam estar associadas às bactérias, especialmente se a pessoa estiver com as defesas baixas", sublinha Carlos Carvalho, pneumologista do Hospital das Clínicas de São Paulo. Segundo ele, gengiva, língua e garganta são a porta de entrada para invasores dos mais ardilosos.

Relação complicada

Para o otorrinolaringologista Arnaldo Guilherme, da Universidade Federal de São Paulo, quando o assunto são as doenças respiratórias o elo boca-corpo funciona como um círculo vicioso. "Quem apresenta sintomas de sinusite e dorme de boca aberta pode ter as mucosas da região ressecadas", justifica. "Desse modo, corre mais riscos de desenvolver uma gengivite. Ela, por sua vez, facilita o aparecimento de problemas respiratórios", diz, amarrando as pontas.

A gengivite é o alarme de perigos maiores

Os micróbios que causam a gengivite podem ser os algozes da inflamação do endocárdio, a membrana que forra o coração. Essa doença provoca lesões que elevam as chances de infarto. "Moléstias bucais são responsáveis por 40% das endocardites", avisa Max Grinberg, cardiologista do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo.

Não morra pela boca

Desde o ano passado, o Incor e o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo fazem uma parceria que, infelizmente, ainda não chamou a devida atenção do público. Na campanha "Dente Pode Matar", a idéia é esclarecer médicos e pacientes sobre a importância de um sorriso impecável. "Pelo menos 20% da população nunca foi ao dentista. Isso é mais sério do que se pensa", lamenta Moacir da Silva, presidente do conselho.

Estudos divulgados pela Academia Americana de Periodontologia mostram que a gengivite agrava a osteoporose – os micróbios prejudicam os ossos da face que sustentam a arcada dentária. Outro dado alarmante vem da Universidade do Alabama. Segundo os estudiosos de lá, uma vez na circulação as bactérias que vivem no sorriso mal conservado disparam reações químicas que apressam o parto. Se os cálculos forem precisos, uma gengivite aparentemente simples consegue aumentar em até sete vezes as chances de uma mãe ganhar um bebê prematuro.

fonte: revista saúde- edição210/março2001/pág.80
site relacionado:www.revistasaude.com.br

 

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