Sorrir
amarelo – dos males o menor para quem não dá muita pelota
para a higiene dos dentes. Uma boca bem limpa espalha saúde por
órgãos que, à vista dos leigos, parecem não ter nada a ver
com a dentição. Mas têm. Estudos mostram que a escovação em
dia – aliada ao uso disciplinado do fio dental – pode evitar
osteoporose, infecções respiratórias, problemas do coração
e até parto prematuro. A conexão boca-corpo, como esse elo é
chamado, nunca foi tão pesquisada. O trabalho mais recente é
assinado pela Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, onde
médicos e dentistas provaram a relação entre uma limpeza
malfeita das gengivas e a doença pulmonar obstrutiva crônica.
Esta, nos pulmões, mata 2 milhões de indivíduos por ano ao
redor do planeta.
As bactérias perambulam pelo sangue até alcançar os brônquios
O trabalho americano analisou 13 792 pessoas acima de 20 anos
e que exibiam pelo menos seis dentes na boca. Gente mais
desdentada do que isso foi descartada de cara, portanto. Na
amostragem, os cientistas constataram que sofria mais de moléstias
respiratórias – incluindo aí a pneumonia e o enfisema –
quem tinha a saúde dentária mais comprometida, o que era
revelado pelo sangramento da gengiva ou, ainda, pelo mau estado
de conservação da arcada.
Embora o cigarro seja o grande vilão de 90% dos episódios
de doença pulmonar, os micróbios que perambulam pelas mucosas
da boca têm papel relevante nesse cenário. Eles caem na
corrente sangüínea e, por meio dela, alcançam os brônquios.
Logo se instalam na nova moradia. Assim, agravam uma inflamação
já iniciada – causada pela fumaça do cigarro ou pela poluição,
por exemplo. Esse pode ser o empurrão fatal.
"Essa infecção causa a degeneração dos brônquios.
As complicações nessa área costumam estar associadas às bactérias,
especialmente se a pessoa estiver com as defesas baixas",
sublinha Carlos Carvalho, pneumologista do Hospital das Clínicas
de São Paulo. Segundo ele, gengiva, língua e garganta são a
porta de entrada para invasores dos mais ardilosos.
Relação complicada
Para o otorrinolaringologista Arnaldo Guilherme, da
Universidade Federal de São Paulo, quando o assunto são as
doenças respiratórias o elo boca-corpo funciona como um círculo
vicioso. "Quem apresenta sintomas de sinusite e dorme de
boca aberta pode ter as mucosas da região ressecadas",
justifica. "Desse modo, corre mais riscos de desenvolver
uma gengivite. Ela, por sua vez, facilita o aparecimento de
problemas respiratórios", diz, amarrando as pontas.
A gengivite é o alarme de perigos maiores
Os micróbios que causam a gengivite podem ser os algozes da
inflamação do endocárdio, a membrana que forra o coração.
Essa doença provoca lesões que elevam as chances de infarto.
"Moléstias bucais são responsáveis por 40% das
endocardites", avisa Max Grinberg, cardiologista do
Instituto do Coração (Incor), em São Paulo.
Não morra pela boca
Desde o ano passado, o Incor e o Conselho Regional de
Odontologia de São Paulo fazem uma parceria que, infelizmente,
ainda não chamou a devida atenção do público. Na campanha
"Dente Pode Matar", a idéia é esclarecer médicos e
pacientes sobre a importância de um sorriso impecável.
"Pelo menos 20% da população nunca foi ao dentista. Isso
é mais sério do que se pensa", lamenta Moacir da Silva,
presidente do conselho.
Estudos divulgados pela Academia Americana de Periodontologia
mostram que a gengivite agrava a osteoporose – os micróbios
prejudicam os ossos da face que sustentam a arcada dentária.
Outro dado alarmante vem da Universidade do Alabama. Segundo os
estudiosos de lá, uma vez na circulação as bactérias que
vivem no sorriso mal conservado disparam reações químicas que
apressam o parto. Se os cálculos forem precisos, uma gengivite
aparentemente simples consegue aumentar em até sete vezes as
chances de uma mãe ganhar um bebê prematuro.
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