Os anestésicos
locais sem vasoconstritor são mais seguros?
Não. Todos os sais anestésicos comercialmente disponíveis em
tubetes são vasodilatadores nas concentrações e doses usuais na
prática odontológica. Portanto, quando administrados isoladamente,
os sais anestésicos aumentam o calibre dos vasos e, assim, a
velocidade e a extensão de absorção da solução depositada no
tecido, reduzindo sua duração de ação e elevando os níveis
plasmáticos rapidamente, o que pode aumentar o risco de reações
adversas. O curto tempo de anestesia, entre dez a 20 minutos de
anestesia pulpar, usualmente é insuficiente para o clínico
trabalhar e obriga-o a novas punções ao longo do procedimento,
contribuindo ainda mais para aumentar a toxicidade sistêmica1.
Desta forma, normalmente os sais anestésicos são associados aos
vasoconstritores e muito raramente são indicados na forma de
solução sem a sua associação. A adição de vasoconstritores a uma
solução anestésica traz várias vantagens clínicas, compensando a
vasodilatação causada pelo sal, aumentando a duração e a qualidade
da anestesia, diminuindo os níveis plasmáticos de anestésico e,
conseqüentemente, a probabilidade de ocorrerem efeitos sistêmicos
adversos e toxicidade. Os vasoconstritores também reduzem a
concentração necessária para anestesia adequada e controlam a
hemorragia durante procedimentos cirúrgicos. É válido ressaltar
que existem dois grupos distintos de vasoconstritores (aminas
simpatomiméticas e felipressina) e que os mesmos apresentam-se em
diferentes concentrações; de forma geral quando corretamente
escolhidos e em baixas concentrações são seguros para o uso em
pacientes com doenças sistêmicas controladas, como hipertensos,
diabéticos e cardiopatas, bem como para gestantes e crianças.
Como calcular a dose máxima segura de anestésico local por
sessão?
Em função da toxicidade sistêmica existem também recomendações
quanto à dose máxima a ser administrada ao paciente por sessão de
atendimento. Da mesma forma que para o cálculo da dose efetiva e
tóxica de medicamentos, a dose máxima de anestésicos também é
calculada em função da resposta obtida na maioria da população
estudada.
Assim, quando se relata a dose máxima de um sal anestésico,
trata-se da dose segura para a maioria da população não sendo
esperados efeitos colaterais nesta situação. Entretanto, um
pequeno número de indivíduos pode responder de forma diferente
(mais ou menos intensamente).
No Quadro 1 são descritas as doses máximas relatadas na literatura
por diferentes autores. Recomenda-se sempre que as menores doses
sejam preferidas, para maior segurança do paciente e tranqüilidade
do profissional. Porém, cabe ao cirurgião-dentista a escolha
baseada nas características do paciente como peso, idade e
condição sistêmica. Doenças hepáticas e renais favorecem maior
toxicidade, assim como a desnutrição e o alcoolismo devido à
redução de proteínas plasmáticas.
Também deve ser ressaltada a possibilidade de combinação de
diferentes sais anestésicos num mesmo procedimento o que, algumas
vezes, é utilizado para resposta terapêutica mais adequada. Nestes
casos, quando se associa um anestésico de menor latência (por
exemplo, a lidocaína) a um de longa duração (bupivacaína), a dose
máxima deve ser calculada em função da somatória dos tubetes, ou
seja, a dose total de ambos os anestésicos locais não deve exceder
a menor das doses máximas dos sais empregados3.
As doses máximas são recomendadas em função da toxicidade dos
anestésicos sobre o sistema nervoso central (SNC) e em doses
maiores sobre o sistema cardiovascular (SCV). Os sinais de
superdosagem podem aparecer inicialmente como parestesia da região
perioral (independente da técnica utilizada), tremor, fala
“arrastada” (como se estivesse alcoolizado), podendo evoluir para
a convulsão. Em seguida a essas reações de estimulação (que
ocorrem por inibição dos neurônios reguladores), segue uma fase de
depressão, podendo ocasionar depressão respiratória. O sistema
cardiovascular (SCV) pode ser afetado com vasodilatação periférica
e diminuição da excitabilidade elétrica do coração, da velocidade
de condução e da força de contração, podendo resultar em parada
cardíaca2.
Endereço para
correspondência:
Juliana Cama Ramacciato
Departamento de Ciências Fisiológicas
Rua José Rocha Junqueira, 13 Bairro - Ponte Preta
13045-310 - Campinas - SP
jramacciato@fop.unicamp.br
Tel.:
(19) 3211-3600
REFERÊNCIAS
1. Bennett CR. Anestesia local e controle da dor na prática
dentária. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1989.
2. Chen AH. Toxicity and allergy to local anesthesia. J Calif Dent
Assoc 1998;26(9):683-92.
3. Malamed SF. Manual de anestesia local. 5a ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2005.
• Juliana Cama Ramacciato
Professora Doutora da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic,
Área de Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica.
• Rogério Heládio Lopes Motta
Professor Doutor da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic,
Área de Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica.
• Francisco Carlos Groppo
Professor Titular da Área de Farmacologia, Anestesiologia e
Terapêutica da FOP - Unicamp.
• Maria Cristina Volpato
Professora Titular da Área de Farmacologia, Anestesiologia e
Terapêutica da FOP - Unicamp.
• José Ranali
Professor Titular da Área de Farmacologia, Anestesiologia e
Terapêutica da FOP - Unicamp.
Nov./Dez 2007
Vol. 61 Nº 6