Aparelho "invisível" corrige
boca de adulto
Modelo cumpre função estética, mas tem indicação
específica e só deve ser usado após análise da causa do problema
A executiva Janaina Dias Mokdeci, 31, passou quase
metade da vida às voltas com tratamentos para corrigir a arcada
dentária. Entre a infância e a adolescência, usou aparelho ortodôntico
três vezes (em média quatro anos cada), mas, ainda assim, chegou aos
30 com os dentes tortos.
Há um ano, soube que poderia corrigi-los com um aparelho invisível,
instalado no lado interno nos dentes. "Foi a solução. Se tivesse que
colocar pela quarta vez aquela coisa horrorosa [o aparelho ortodôntico
convencional] na minha boca, preferiria ficar com os dentes tortos",
diz.
Mokdeci representa um público cada vez mais freqüente nos
consultórios
dentários: adultos que passaram por vários
tratamentos ortodônticos
fracassados (em alguns locais eles representam 50% da clientela) e que
não agüentam mais os "sorrisos blindados" -como são chamados os
aparelhos fixos metálicos.
Há no mercado pelo menos três modelos (cerâmico, lingual e o de
plástico, chamado "Invisalign") que cumprem essa função estética, mas
têm indicações específicas e só devem ser usados após uma ampla
análise da causa do problema. O uso incorreto pode ser prejudicial
(leia texto abaixo).
O modelo cerâmico tem a mesma função do
aparelho
ortdontico tradicional, com a
diferença de que os braquetes (placas) de metal são substituídos por
cerâmica, material mais parecido com a cor dos dentes. "Ele é muito
bem aceito por adolescentes. Tem alguns que dizem aos pais que só vão
usar aparelho se for de porcelana", diz a ortodontista Vivian Gaspar.
A
cirurgiã-dentista Nerly Juliano alerta para os modelos falsos que
existem no mercado. "Tem gente que usa resina em vez de porcelana.
Esse material, com o tempo, vai amarelando", afirma.
O
aparelho lingual, cuja tecnologia foi desenvolvida por técnicos da Nasa, tem os
braquetes de metal montados no lado interno dos dentes.
Segundo Vivian, é o aparelho preferido por executivos, artistas e
atletas. "Há pacientes que demoraram anos para corrigir os dentes
porque não queriam parecer adolescentes nos compromissos de trabalho."
Na opinião do cirurgião-dentista Kurt Faltin Júnior, presidente da
Sociedade Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial, o aparelho
lingual apresenta mais dificuldades técnicas -colagem dos braquetes
atrás dos dentes e o controle total dos movimentos dentários- e há
mais queixas dos clientes.
"No início, muitos ferem a língua e têm dificuldades para falar e
deglutir. Tenho pacientes que pediram para tirar [o aparelho] porque
não agüentaram", afirma. Para ele, o aparelho instalado na frente dos
dentes é mais eficaz.
Na avaliação do
ortodontista José Carlos Gaspar, presidente da
Sociedade Iberoamericana de
Ortodontia no Brasil, a técnica lingual
evoluiu bastante nos últimos anos, com braquetes mais arredondados,
que não machucam a boca do paciente. Segundo ele, seus pacientes quase
não reclamam de dor, já que a força feita pelos arcos é pequena e
contínua.
Já o modelo em acetato (plástico), segundo os especialistas, só é
indicado para pequenos movimentos dentários, por exemplo, pacientes
que tenham dentes afastados ou um pouco tortos. Os aparelhos custam
entre US$ 2.500 e US$ 5.000 e são feitos nos EUA a partir de imagens
computadorizadas da arcada do paciente.
Um tratamento completo pode exigir a confecção de até 50 unidades, que
são trocadas a cada duas semanas ou de acordo com o plano do
ortodontista. Segundo Gaspar, há muitos profissionais usando aparelhos
"piratas", que não têm garantia de sucesso.
Fonte: Folha de SP |