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Odontologia: um mercado cada vez mais difícil
A
Odontologia Brasileira na atualidade requer um pouco de reflexão. Com um total de 157.716
mil cirurgiões-dentistas existentes no país, a lei da oferta e da procura está em
desalinho. Ano após ano um número maior de profissionais oriundos das faculdades e
universidades são despejados num mercado de trabalho já saturado, que não comporta o
excessivo número de profissionais.
Para efeito de análise quantitativa, em
dezembro de 1996, existiam 90 cursos de Odontologia, formando uma média de 8,5 mil
profissionais/ano. Hoje este número saltou para 130 cursos, diplomando, em média, 11,2
mil profissionais/ano. |
O
Brasil tem hoje, na faixa etária de 18 a 24 anos, 9,6% dos jovens nas instituições de
Ensino Superior. O Governo Federal acha pouco. Assim, o Ministério da Educação (MEC) -
tem uma proposta para elevar para 30% o ingresso de jovens desta faixa etária nas
universidades.
Em todo o território nacional existem
aproximadamente 1.030 entidades de ensino superior, 136 universidades com 1.800.000 alunos
matriculados. Esse número de instituições de ensino é mais elevado que em muitos
países, se comparado proporcionalmente com as suas respectivas populações ( ver tabela
abaixo). |
Comparativo
entre o número de curso de
odontologia e a população do Brasil e Estados Unidos |
País |
População em milhões |
Curso de odontologia |
População
urbana |
Renda per capita em dólares |
E. Unidos |
273,8 |
46 |
76% |
28.020 |
Brasil |
161,8 |
130 |
78% |
5.029 |
|
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Para se ter
uma idéia os Estados Unidos tem uma população de 273,8 milhões, com uma renda per
capita de US$ 28 mil, com uma população urbana de 76% e conta com 46 cursos de
Odontologia. O Brasil tem uma população de 161, 8 milhões, renda per capita de US$ 5
mil, com 130 cursos na área de Odontologia. Notamos uma total desigualdade entre o
número de cursos e a população entre estes dois países. O crescimento de cursos de
odontologia, sem qualquer possibilidade de mercado, já é um problema presente e poderá
se agravar ainda mais no futuro.
A Lei de Diretrizes de Base (LDB) para a
Educação Nacional cria três caminhos para quem quer abrir uma faculdade de Odontologia.
"Primeiro", diz o professor titular da Unesp-Araçatuba e membro da Comissão do
Provão do MEC, Antonio Cesar Perri |
de Carvalho,
"as universidades têm autonomia para criar cursos; segundo, o Conselho Estadual da
Educação também pode criar cursos municipais e, por último, o MEC, que analisa
propostas de instituições particulares para abertura de cursos."
Além disso, em sua opinião, "há uma
má distribuição das faculdades de Odontologia no país.
A grande maioria está localizada no
Sudeste, enquanto as regiões Norte e Nordeste estão carente".
...De menos
O Maranhão com
5.222.183 habitantes
deveria ter 4.779 dentistas, mas possui atualmente 1.093 |
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Uma
saída para absorver os profissionais no mercado de trabalho seria por meio de uma ação
conjunta entre os governos Federal, Estadual e Municipal. "Se eles atuassem no
sentido de atender plenamente as necessidades de saúde bucal da população brasileira,
que possui alto índice de CPOD, a rede pública de saúde e seus quadros de profissionais
aumentaria em mais de 400%", diz o presidente do Conselho Regional de Sergipe, Marcos
Macedo de Santana. "Geraria, em todo o Brasil, mais de 50 mil novos postos de
trabalho na área odontológica, por meio do SUS, que é o instrumento público oficial de
atenção básica a saúde."
De acordo com o seu raciocínio, os
157.716 mil cirurgiões-dentistas existentes não precisariam atuar em direção apenas
dos 20% dos 160 milhões de habitantes que têm renda para consumir a saúde privada e,
sim, migrar para a população de baixa renda. "Enquanto não houver neste país, uma
política séria de saúde pública, que vise atender aos 120 milhões de excluídos, de
forma gratuita, como está prevista na Constituição, o mercado de trabalho, na área
odontológica, estará cada vez mais saturado", explica Santana.
De mais...
A OMS recomenda um
dentista para 1.200 habitantes.
Obedecendo essa recomendação,
o estado de São Paulo, com
uma população de 34.119.110
deveeria ter 28.400 dentistas,
mas tem 55.202 |
Na opinião do diretor de
Orientação Profissional da APCD, Renato José Berro, "os dirigentes do nosso país
permitiram a abertura desenfreada de cursos, formando um número excessivo de
profissionais a cada ano. Dizer que o mercado de trabalho absorve essa mão-de-obra é
conversa de botequim. |
Sabemos
que a maioria da população não pode pagar o mais barato dos tratamentos
dentários".
Berro alerta para uma ação mais efetiva
por parte do Governo: "falta um projeto governamental voltado para a população
como, educação, saúde, entre outros. Se nada fizermos,vamos passar por momentos ainda
mais difíceis, sendo que a maioria dos dentistas irá empobrecer, limitando-se a um
padrão de vida bem simples. Temos que lutar pela dignidade da classe".
Além disso, estudos divulgados pela OMS
(Organização Mundial de Saúde) salientam que o número mínimo aceitável de dentistas
por habitante é de um para 1.200 habitantes.
"Chegamos à conclusão que seriam
necessários cerca de 100 mil cirurgiões-dentistas atuando no SUS para atender às
necessidades de saúde bucal desses 120 milhões de habitantes excluídos. E o que temos
hoje, em oferta através do SUS, em todo o Brasil, gira em torno de 25 mil
cirurgiões-dentistas", disse Santana.
Para o professor da Faculdade Federal de
Odontologia de Diamantina (Fafeod), Fernando Borges Ramos, "as entidades e
associações deveriam criar permanentemente um banco de dados disponível e atualizado,
via Internet, informando a possibilidade de emprego em prefeituras, associações,
entidades não governamentais, filantrópicas, empresas públicas e privadas, objetivando
consultas, facilitando a procura de empregos, notadamente dos recém-formados. A partir
daí, quem sabe, poderá haver uma maior distribuição de cirurgiões-dentistas país
afora, uma distribuição mais justa, mais equilibrada e mais fiel aos preceitos que regem
a própria razão de ser da profissão odontológica."
(Israel Correia de Lima) |
TOTAL DE CIRURGIÕES-DENTISTAS POR ESTADO E POR HABITANTES |
Estado
|
Total de habitantes
por Estado |
Total de CD por
Estado |
Total de por
número de habitantes |
AC |
483.593 |
174 |
2.779 |
AL |
2.633.251 |
1409 |
1.869 |
AM |
2.389.279 |
970 |
2.463 |
AP |
379.459 |
148 |
2.564 |
BA |
12.541.675 |
4771 |
2.629 |
CE |
6.809.290 |
2973 |
2.290 |
DF |
1.821.946 |
3744 |
502 |
ES |
2.802.707 |
2651 |
1.057 |
GO |
4.514.967 |
4272 |
1.057 |
MA |
5.222.183 |
1093 |
4.779 |
MG |
16.672.613 |
21051 |
792 |
MS |
1.927.834 |
2002 |
963 |
MT |
2.235.832 |
1529 |
1.462 |
PA |
5.510.849 |
1979 |
2.784 |
PB |
3.305.616 |
2188 |
1.510 |
PE |
7.399.071 |
4503 |
1.643 |
PI |
2.673.085 |
1128 |
2.370 |
PR |
9.003.80 |
49359 |
962 |
RJ |
13.406.308 |
18990 |
706 |
RN |
2.558.660 |
1649 |
1.552 |
RO |
1.229.306 |
521 |
2.359 |
RR |
247.131 |
147 |
1.681 |
RS |
9.634.688 |
9357 |
1.030 |
SC |
4.875.244 |
4502 |
1.083 |
SE |
1.624.020 |
903 |
1.798 |
SP |
34.119.110 |
55202 |
618 |
TO |
1.048.642 |
501 |
2.093 |
Total |
157.070.163
|
157.716
|
996
|
Fontes:
CFO e IBGE (1996)
N.R.:
A OMS (Organização Mundial de Saúde) informa que o número mínimo aceitável de
dentistas é de um para 1.200 habitantes. |
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Baldacci
cria Comissão para Defesa da Odontologia |
Sempre
preocupado com o destino da classe odontológica, Raphael Baldacci Filho, durante a
campanha que o elegeu presidente, ouvia do associado que a APCD necessitava de um perfil
mais compromissado com os problemas do cirurgião- dentista, no que se refere à sua
atuação profissional. Os sócios reconhecem os avanços desenvolvidos na área
Científica, com a ministração de Cursos Teóricos, Congressos Internacionais, Cursos
Clínicos nas EAPs, Videoteca; e na área de Benefícios, como Seguro-Saúde,
Responsabilidade Civil, Vida e uma série de outros convênios. Eles esperam a mesma
determinação no tocante à defesa da classe.
Para isso, o primeiro compromisso
assumido por Baldacci foi nomear Renato José Berro como Diretor de Orientação
Profissional. Ligado a esse departamento foi criado a Comissão de Defesa da Odontologia.
Essa Comissão, segundo Berro,
desenvolverá um trabalho nos seguintes aspectos: 1)Valorização da Odontologia e de
nossa Profissão; 2) Mercado de Trabalho (Cooperativas e Convênios); 3) Marketing Direto
com a população sobre a importância da saúde bucal, incentivando-a procurar o
dentista; 4) Educação Infantil nas escolas públicas; 5) Orientação aos
recém-formados sobre a distribuição geografica, preços praticados, empregos e
remuneração salarial; 6) Continuar lutando contra a abertura de novas faculdades e
melhorar o nível de ensino das existentes.
Como primeira medida administrativa, foi
solicitado a todas as Regionais e Distritais a criação de um Departamento de Nova
Geração ( récem-formados de 0 a 5 anos), como o existente na APCD Central. "O
intuito", diz Berro, "é levantar dados da situação atual em que se encontram
e quais as reinvindicações dessa nova geração no que diz respeito a dificuldade para
enquadrar-se no atual mercado de trabalho."
"Com esse espaço criado aos jovens
dentistas"- explica Berro - "acreditamos sempre ter um perfil real da situação
do mercado. |
Visitaremos
as macro-regiões do Estado para ouvir os diretores, suas reivindicações e quais as
propostas viáveis para ser encampadas pela APCD".
Como segunda medida administrativa, foram
nomeados para colaborar junto a essa comissão os seguintes membros: vice- coordenador:
Nelson José Modesto Guidio; membros: Armando de Barros (Cooperativismo); Wilson Chediek
(Sindicalismo); Munira Kaissar Nasr Samorano (CODI); Paula R. O. de Carvalho (Nova-
Geração); Ana Cláudia Aydar de Mello (Acadêmicos); Heloisa Takehara
( CORE).
Além dos dados fornecidos pelos departamentos de Nova
Geração, será realizada por uma empresa especializada, uma pesquisa de "onde se
encontra os recém - formados", para saber se já estão trabalhando, onde moram, se
continuam estudando, quanto estão ganhando. Também será feito um levantamento da faixa
salarial nos empregos municipais, estaduais e privados.
A Comissão também visitará os
Departamentos de Odontologia Social das Universidades: USP, UNESP E UNICAMP, para colher
dados referente às pesquisas realizadas recentemente sobre mercado de trabalho,
orientação dada aos formandos e perspectivas futuras da Odontologia. Iremos ouvir e
atuar junto às Cooperativas e Odontologia de Grupo. Os dados obtidos por meio dos fóruns
ocorridos servirão também de instrumento de trabalho.
Berro acredita que a Comissão é pequena
para o volume de trabalho a ser realizado. Por isso é importante a participação do
maior número possível de lideranças e colegas. "Desde já aguardamos sugestões
via fax ou e-mail. Não prometemos resolver todos os problemas de nossa profissão, mas
sim muita dedicação, na certeza de que, com a participação efetiva de todos possamos
colher frutos de nossa atuação conjunta. Contamos com vocês, na compreensão e
propostas", finalizou ele.
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Fonte: APCD |
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