* Vitor Ribeiro
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A música A história de Lily Braun, uma parceria de Edu Lobo e Chico Buarque é parte da trilha sonora do espetáculo de dança O grande circo místico encenado pelo Balé Guaíra nos anos 80.
Recentemente regravada pela cantora Maria Gadú, conta dois momentos da personagem Lily Braun. Seduzida pelo homem de seus sonhos, casa-se e, ao tornar-se esposa, a magia da sedução acaba na rotina do casamento.
Nunca mais cinema
Nunca mais drinque no dancing
Nunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz”
A canção se aplica, também, a outros tipos de relações humanas onde se busca atrair pessoas apenas como o objetivo de usá-las para algum motivo egoísta, sem levar em consideração seus sentimentos e anseios.
Isso acontece com uma freqüência irritante, por exemplo, quando estamos no papel de clientes. Algumas empresas nos seduzem com cores, formas, texturas e promessas de prazeres se adquirirmos seus produtos e serviços. Somos tratados como musas e sob nossos pés são abertos tapetes vermelhos. Mimos e sorrisos são distribuídos até o instante em que… assinamos o cheque!
Depois disso toda a magia desaparece e viramos apenas uma estatística e um dado no Custumer Relationship Manager, afinal, o único e real objetivo foi alcançado: esvaziar nossos bolsos. Resta-nos o tédio, o aborrecimento e a desilusão à medida que utilizamos os produtos ou serviços deste casamento que muitas vezes termina em divórcio litigioso nos balcões do PROCOM.
Invertendo a seta, faço uma pergunta: será que tratamos nossos pacientes como uma Lily Braun? Como é nossa relação com eles, antes, durante e depois do aceite do tratamento e quando estamos com seus cheques na mão? A cortesia acaba? O tratamento especial é substituído pelo tratamento padrão? Qual é nossa intenção ao captar um cliente: servir ou sacar o dinheiro como se ele fosse uma caixa eletrônica?
Ainda que tratar pessoas como Lily Braun possa gerar dinheiro durante algum tempo, não o fará em longo prazo, pois os consumidores mudaram e estão mudando. Querem ser tratados como gente e estão cada vez menos propensos a entregar suas riquezas a sedutores baratos de voz macia.
O segredo, acredito, está neste antigo ditado chinês:
Se você quer um ano de prosperidade, cultive trigo.
Se você quer dez anos de prosperidade, cultive árvores.
Se você quer cem anos de prosperidade, cultive pessoas.
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Vitor Ribeiro
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* Sobre o autor: Vitor Ribeiro é Cirurgião-Dentista e Jornalista
vitor.ribeiro@folha.com.br
http://konduto.blogspot.com
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