Acabô em pizza, belo!

*Vitor Ribeiro

No mundo corporativo existe um conceito chamado “economia burra”, que é aquela que diminui a despesa, mas resulta na perda de clientes, ou seja, trás prejuízo ao invés do almejado lucro. Lembrei-me disso quando, outro dia, estando em casa, sem dinheiro em espécie, resolvi pedir uma pizza em um delivery que oferecia um diferencial interessante: poder pagar com qualquer cartão, pois o motoboy trazia a maquininha. Maravilha! Perfeito para mim que utilizo muito o “dinheiro de plástico”.
Fiz o pedido e quando desliguei o telefone, já estava decidido a ser um cliente fiel e propagador que iria indicar o estabelecimento aos amigos pelo  boca-a-boca, pelo Orkut, pelo Twitter e até mandando uns torpedinhos. Afinal, a vida hoje é uma grande rede a embalar os relacionamentos!
Porém, ai, porém, (como dizia o filósofo Paulinho da Viola) a casa caiu  na primeira mordida! Queijo de péssima qualidade, catupiry de composição duvidosa, calabresa sebosa, massa murcha, enfim, um verdadeiro sacrilégio para um paulistano da gema apaixonado por pizza!
Após colocá-la num lugar apropriado – o saco de lixo – fiquei refletindo para tentar extrair alguma lição da desgraça: o que aconteceu com aquele momento de consumo? Estava tudo caminhando para que a pizzaria vendesse, não mais uma, mas centenas de pizzas com a minha propaganda gratuita, entretanto, a coisa “não rolou”.
A resposta é simples: o dono da pizzaria resolveu fazer a tal da economia burra e perdeu um cliente e lucro no afã de  economizar alguns centavos por unidade. Tivesse ele diminuído um pouco sua margem por pizza, gastando mais na sua produção, teria ganhado mais e também se destacado em meio a tantas outras pizzarias aqui de São José dos Campos, cidade onde moro. Acabou dando um tiro no próprio pé!
 Infelizmente isso acontece também no universo da Odontologia onde a economia burra é também irresponsável, para não dizer criminosa. Colegas que utilizam materiais de baixa qualidade ou pulam etapas nos procedimentos para economizar tempo ou cortam pequenas cortesias para com clientes, estão cometendo o mesmo erro do dono da pizzaria.
 O impacto no custo final do procedimento é pequeno. Se você não acredita faça contas, esse hábito salutar que não faz parte da cultura dos Dentistas. E mesmo quando o impacto não é tão pequeno assim, não vale a pena sacrificar a qualidade para diminuir despesas. Você terá prejuízo, na repetição do tratamento, na perda de clientes – uma perda sempre plural por conta da propagação negativa em rede – e no “pior dos mundos”, em um processo judicial.
 Não estou dizendo que não devemos economizar, muito pelo contrário, controle de custos é parte fundamental da gestão financeira de um negócio. Porém, o desafio de todo empreendedor é encontrar uma maneira de fazer isso com impacto zero na qualidade do trabalho executado e no atendimento ao cliente. Envolve saber quanto, quando e onde comprar, saber negociar e depois transformar tudo isso num processo dentro da clínica. É uma questão de estratégia, tática e de uma inteligente e ampla visão de longo prazo.
 Fazer economia cortando o bebedouro da recepção, o cafezinho dos colaboradores ou usando a resina “marca AMB” (A Mais Barata), não faz jus à inteligência de profissionais universitários como nós Cirurgiões-Dentistas e muito menos às nossas equipes. É algo antiético, injusto e desumano para com os pacientes que colocam sua saúde em nossas mãos e que esperam que façamos o melhor em prol deles.
Além do mais, quando as pessoas percebem em nós essa intenção de dar o melhor, de trabalhar com excelência, isso se traduz em fidelidade, em propaganda aos amigos e na melhora da imagem da Odontologia. Se não pensarmos e agirmos assim, num futuro muito próximo Dentista será sinônimo de profissional picareta como acontece com os políticos brasileiros. Sim, está em nossas mãos preservar o mercado onde atuamos e não fazer “xixi na água que bebemos”, o que ocorre toda vez que um cliente nos abandona descontente.
Quanto ao episódio da pizza, só não foi de todo perdido porque me rendeu esta reflexão. Muito sucesso a todos!

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Sobre o Autor:

Vitor Ribeiro é Cirurgião-Dentista e Consultor
vitor.ribeiro@folha.com.br
Blog: http://konduto.blogspot.com