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A dona de casa Maria Pizani Rodrigues, 40 anos, viaja regularmente mais de 500 quilômetros de São Paulo para Araçatuba. O motivo da viagem é o tratamento odontológico do filho, Bruno Andrei Rodrigues, 21, que utiliza há oito anos o atendimento gratuito do Caoe (Centro de Assistência Odontológica a Pacientes Portadores de Necessidades Especiais), conhecido como o Centrinho da Unesp (Universidade Estadual Paulista). O Caoe completa 25 anos em 2009.
Maria explica que na capital paulista há centros especializados no tratamento dentário a pessoas com deficiência, mas que o Centrinho, em sua opinião, é o melhor espaço para o tratamento do filho. “Tenho confiança nos profissionais que aqui trabalham, e tudo que eu preciso eu encontro aqui”, afirma.
ESPECIALIZADO
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O tratamento odontológico de pessoas com deficiência é uma atividade que requer técnicas e métodos próprios. Se a cadeira do dentista causa medo na maioria das pessoas, nas crianças e adolescentes com síndromes, problemas neurológicos e deficiências, os procedimentos dentários podem gerar situações de grande estresse.
É nesse público que as ações do Caoe estão centradas desde 1984, quando o professor Ruy dos Santos Pinto implantou o projeto. O centro foi o pioneiro no País, responsável por exportar técnicas e procedimentos para todo o mundo.
De sua criação até o fim do ano passado, foram feitas mais de 261 mil assistências e mais de 950 mil procedimentos odontológicos. Atualmente, o Caoe tem 9,3 mil pacientes cadastrados de 480 cidades do Brasil, que viajam de seus municípios para serem atendidos em Araçatuba.
“O centro exerce um importante papel humanitário para a humanidade, pois além de realizar o tratamento, ainda exporta conhecimento e capacita profissionais, sendo reconhecido no mundo por um prêmio internacional da Unesco”, afirma o diretor da Unesp Araçatuba, Pedro Felício Estrada Barnabé.
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Ele lembra que o professor Ruy dos Santos Pinto foi um pioneiro para a questão do tratamento inclusivo dos pacientes com deficiência, e que a existência do Centrinho se deve a ele.
EXTENSÃO
A equipe multidisciplinar do Caoe é formada por 40 especialistas envolvidos direta ou indiretamente nos serviços. Entre as principais atividades, o centro realiza profilaxias (higienização bucal), restaurações, tratamentos endodônticos, ortodônticos, periodontais e cirurgias de maior complexidade.
Além disso, dois importantes projetos de extensão universitária auxiliam na integração dos pacientes com necessidades especiais à assistência odontológica. “Música Associada às Necessidades Terapêuticas” e “Cão Cidadão” são os destaques da área de extensão, que contam com o apoio e o reconhecimento da reitoria da Unesp.
O Cão Cidadão utiliza cães treinados com as crianças, jovens e adultos, para diminuir o medo dos tratamentos dentários. Por seu trabalho, o projeto recebeu nesta semana uma menção honrosa do prêmio Governador Mário Covas.
Atendimento devolve o sorriso aos pacientes
O Caoe surgiu num período em que a questão da inclusão das pessoas com necessidades especiais não era garantida por lei ou amplamente discutida, como é atualmente. Nesse período, muitas pessoas com síndromes ou limitações ficavam reclusas em suas casas e distantes dos serviços públicos, tendo ignorado o seu direito constitucional de igualdade.
“O projeto promoveu antes mesmo das leis a inclusão das pessoas com deficiência”, destaca o supervisor do Centrinho, Wilson Roberto Poi. Ele frisa que quando se promove a saúde bucal, a qualidade de vida melhora proporcionalmente nas pessoas com deficiência.
PROPOSTA
“Existem particularidades no tratamento de pessoas com deficiência. Dessa forma, nossa proposta não é fazer caridade, mas sim trabalhar com profissionalismo e qualidade no atendimento, com dignidade e inclusão social”, destaca.
A afirmação de que nem tudo na vida tem um preço pode ser confirmada no sorriso de Daiana Aparecida de Almeida, 20. Ela é paciente do Centrinho desde 1999. A mãe de Daiana, a doméstica Maria Terezinha Rodrigues, 49, explica que não tem palavras para agradecer ao Centrinho. “Os dentes e o sorriso de minha filha são perfeitos”, conta a mãe, emocionada. S.T.
Fonte Folha da Região