Hoje são mais de 50 pacientes, no bairro de Ipanema, ponto de grande movimento não só de turistas mas também de moradores LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais). A proposta, define o empreendimento, é evitar o preconceito em meio à discussão sobre o combate à intolerância e à violência contra homossexuais.
“Devemos nos adaptar às demandas dos clientes e suas especificidades”, avalia uma das sócias da clínica, Sandra Pacheco, de 49 anos. "O preconceito se manifesta até mesmo na sala de espera do consultório. A odontologia que praticamos é focada no público GLS, mas atendemos todas as pessoas da mesma forma", disse ao UOL Notícias a fluminense Sandra, que abriu o consultório em 2006.
Clínica de odonto aposta no público gay
A partir daí, diz ela, percebeu que havia um “grande mundo de casais gays” e que havia um nicho de mercado a explorar: oferecer um atendimento mais personalizado e acolhedor para este segmento que, afirma, carece de serviços especializados –o acompanhante do paciente, por exemplo, pode acompanhar o atendimento. Sandra contou que, durante as consultas, os casais tem a oportunidade de contar a sua vida e, assim, “a gente vai conhecendo melhor a história da pessoa”.
A outra sócia, a terapeuta holística Thaís Lobo, 47, diz que cerca de 70% dos pacientes são homossexuais e que a cada dez clientes que vão lá para conhecer o serviço, nove permanecem. “Toda semana chegam novos, nunca perdemos paciente. A gente viu que no Rio o público LGBT é grande, mas que existe uma insatisfação do atendimento em clínicas odontológicas e em consultórios médicos. Fiz juma pesquisa nos bairros de Copacabana e Ipanema (ambos na zona sul), e as pessoas diziam que estavam sendo discriminadas na sala de consultório quando iam ao médico”, contou.
O público LGBT é “super exigente, aprecia a qualidade do serviço e não se limita a gastar”, salientou a terapeuta. “A gente respeita também quem não gosta de assumir. Temos travestis e drag queens que vão ao consultório e levam amigos e parentes”, relatou.
Thaís nega que dessa forma, se especializando em um atendimento para o segmento, esteja aumentando a segregação. Ela própria diz ter sofrido com discriminação em consultórios após revelar ser homossexual.
Hoje, além de sócias, Sandra e Thaís são companheiras. E no consultório, sexo não é tabu. Além da preocupação com a saúde bucal do paciente, a dentista e a terapeuta também ficam atentas à saúde sexual do companheiro do paciente. Para evitar que ferimentos ou infecções na boca passem para o parceiro através do sexo oral, Sandra e Thaís abordam temas de sexualidade e orientam como não transmitir doenças.
“Temos pacientes que vão com o namorado ao consultório. Dentista nenhum fala de sexo oral, nós falamos”, afirma Thaís.
O comerciante José Américo, de 34, já é um cliente fiel que frequenta o consultório há dois anos. “Pela placa do anúncio vi que era um arco-íris estilizado. Fui conhecer, fiz um orçamento e gostei”, disse Américo, que contou já ter feito a indicação a amigos.
Ele é homossexual e o fato de as sócias também serem aproxima o público, salientou. E quando o assunto é sexo, não há problema: “Elas explicam as questões sobre pequenos sangramentos e higienização, além de doenças que transmitem pela boca. É um trabalho de prevenção para a saúde”.
Américo defende ainda a necessidade de haver mais serviços especializados para gays. “Muitos, por não terem filhos, podem pagar mais pela qualidade do serviço. Vejo com bons olhos ter atendimentos especializados, acho que a tendência é só crescer este tipo de serviço. Em algumas áreas é necessário”, argumentou.
O sonho das duas é ampliar o negócio e criar um espaço aberto ao público que inclua desde salão de beleza, massagem, especialidades médicas, lojas e outros serviços como advocacia e contabilidade. “Eu quero aumentar o negócio, quero fazer um shopping gay, um que seja espaço aberto ao público e a todas as classes”, enfatiza a terapeuta.
O primeiro passo será dado no próximo dia 30, quando de consultório as duas vão passar a atender numa clínica que será inaugurada em Ipanema. E a ideia parece estar pegando, afirma a terapeuta. “Um empresário heterossexual de São Paulo nos conheceu e disse que tem interesse em abrir uma franquia nossa”, disse.
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Fonte: UOL