Atualmente, considerando que a população negra corresponde a 54% do total no Brasil, conforme dados do IBGE, é imprescindível fomentar a representatividade negra na odontologia. Em virtude do Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) reiterou a natureza multirracial das profissões relacionadas à saúde bucal e reforça a luta contra o preconceito direcionado a Cirurgiões-Dentistas negros, bem como aos demais profissionais técnicos e auxiliares da Classe Odontológica.
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As desigualdades sociais e econômicas enfrentadas pela população negra no Brasil, decorrentes das dolorosas marcas da escravidão na história nacional, são aspectos que merecem ser debatidos, na opinião do presidente do CFO, Juliano do Vale. “Dessa maneira, é crucial reforçarmos constantemente os valores de respeito mútuo em busca de uma sociedade mais igualitária”, ressaltou.
Joeli Gerva de Almeida, um marco na representatividade étnica com seus 76 anos, foi reconhecido como o primeiro Cirurgião-Dentista negro do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Sua trajetória de quase 40 anos de carreira incluiu a dedicação ao auxílio aos residentes da especialidade de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. Inicialmente, atuou como enfermeiro, mas sua jornada se redirecionou para a Odontologia ao se envolver com os pacientes e as demandas diárias do hospital. “Decidi fazer Odontologia e estava determinado a ser Cirurgião Bucomaxilofacial”, afirmou. Durante a graduação na Universidade Santo Amaro (UNISA), concluída em 1981, destacou-se com monitorias e como assistente de professores em clínicas devido ao seu excelente desempenho.
Um dos momentos mais marcantes durante sua graduação ocorreu quando estava prestes a atender uma paciente, também negra, na Clínica Odontológica da faculdade. Na ocasião, o filho da paciente, um garoto de aproximadamente 9 ou 10 anos, expressou sua surpresa: “Nossa, mãe, é possível um negro ser dentista?”. Joeli aproveitou a oportunidade para explicar ao jovem que sim, com dedicação e determinação, o sonho de seguir a Odontologia é plausível. “Fiquei feliz em poder encorajar o jovem, mesmo porque temos uma Odontologia de excelência e somos competentes, independente da etnia. Ao mesmo tempo, refleti muito sobre a realidade de nós, Cirurgiões-Dentistas negros, estarmos em menor número”, ponderou.
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Outro exemplo inspirador é Celio Roberto Santos, de 44 anos, que enfrentou desafios significativos ao crescer em um orfanato. Apesar das dificuldades financeiras e familiares, alcançou o sonho de cursar Odontologia aos 36 anos, após uma longa experiência como Técnico em Prótese Dentária (TPD). “Tinha uma meta, que era ter o diploma de ensino superior, e minha vivência como protético me levava para a Odontologia, pois sonhava em trabalhar mais a fundo com a Prótese”, relata. “Na educação superior, os programas sociais já passaram a inserir mais os negros, mas ainda vejo que na maioria das profissões, não só na Odontologia, o negro ainda precisa e pode ser mais incluído no mercado de trabalho”, defende Celio, que também se especializou em Implantodontia e atualmente atua em um consultório particular.
Essas histórias destacam a importância de não apenas reconhecer, mas também valorizar e incentivar a presença de profissionais negros na odontologia, contribuindo para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária. O Dia Nacional da Consciência Negra serve como uma oportunidade para refletir sobre essas trajetórias e reforçar o compromisso com a diversidade e o combate ao preconceito em todas as áreas profissionais.
Fonte: CFO
