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Hospitais gerais devem contar com dentistas nas equipes

Tratamento de doença periodontal ajuda ou previne diabetes e doenças cardiovasculares e respiratórias e outras

Depois de passar muito tempo sendo considerada uma estrutura à parte do resto do corpo, a boca volta a ser entendida como constituinte do organismo humano. Foi justamente para mostrar a associação entre problemas bucais, especialmente da doença periodontal, e a saúde geral que especialistas da área de odontologia e de medicina se reuniram na manhã de ontem em workshops promovidos pela Colgate no Pavilhão de Exposições do Anhembi. durante o 27º Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP),   O cardiologista Bruno Caramelli, professor associado do Departamento de Cardio-pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Diretor da Unidade de Medicina Interdisciplinar do InCor, reforçou a necessidade de se atentar para a boca, lembrando que uma das primeiras edições do periódico The Lancet de 2009 trouxe no editorial a saúde bucal como tema. “Cerca de 90% das pessoas possuem cárie, entre 5 e 15% da população apresentam periodontite grave e o câncer oral é o oitavo tipo mais comum da doença”, informou.  O cardiologista lembrou ainda uma das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) que chama atenção para a necessidade de todos os profissionais de saúde estenderem um olhar também para a saúde bucal.  A doença periodontal, que é uma inflamação no periodonto, ou seja, no tecido que reveste e suporta os dentes – gengiva, cemento, ligamento periodontal e osso – só se desenvolve, segundo Eduardo Saba Chujfi, doutor em odontologia, especializado em periodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, em biofilmes de sujeitos que apresentam falhas no organismo.  Uma vez que a doença se estabelece, o tratamento fundamental é combater a infecção. Eduardo explicou que só após procedimentos de desintoxicação cementária, utilizando, por exemplo, antimicrobianos associados a cremes dentais com antisséptico, é que se pode realizar cirurgias periodontais.  Por ser um processo inflamatório, a doença periodontal pode ser acompanhada através de mensurações dos níveis de proteína C reativa, substância produzida pelo fígado e que aumenta quando há infecções no organismo, mantendo, portanto, relação com a gravidade da doença. Durante o processo infeccioso, há o aparecimento e proliferação de bactérias na boca. Essas bactérias produzem diferentes toxinas, por exemplo, interleucinas e fator de necrose tumoral-alfa (TNF-?), que são transportadas através da corrente sanguínea para diferentes partes do corpo. Desta forma, o processo infeccioso iniciado na boca pode relacionar-se com doenças tais como diabetes, cardiovasculopatias, renais, hepáticas, respiratórias e até com prematuridade.  Embora a associação entre doença periodontal e as doenças sistêmicas ainda não esteja totalmente esclarecida, diferentes estudos têm mostrado que o tratamento da inflamação no periodonto é capaz de trazer benefícios para pacientes que apresentam alguns problemas. Segundo Arthur Belém Novaes Jr, professor titular de periodontia da Universidade de São Paulo- Ribeirão Preto, “tratar a doença periodontal reduz o patamar glicêmico. Esta queda está relacionada com a diminuição principalmente de TNF-?. Assim, observamos que o tratamento periodontal traz benefício, por exemplo, para o diabetes mellitus tipo 2, no qual o paciente produz insulina, mas este hormônio não consegue colocar a glicose dentro da célula”.  Ainda com relação à diabetes, Eduardo Saba lembrou que não se deve ter medo de sangramentos nesse grupo de pacientes durante os procedimentos odontológicos. “Na realidade, pacientes diabéticos possuem dificuldade de cicatrização e maior risco de infecção. Assim, não adianta solicitar autorização do endocrinologista para a realização de tratamentos odontológicos, o dentista deve solicitar relatórios para que possa conhecer o estado do paciente”.  Eduardo Saba disse ainda que, por exemplo, é muito importante também que pacientes com doença renal façam tratamentos periodontais, pois é muito comum o aparecimento de ulcerações, petéquias, lesões, hemorragia gengival e halitose fétida. “A perda óssea é patente em pacientes com insuficiência renal, o que torna possível fraturas, por exemplo, em cirurgias de implantes”, disse.  Já no caso das doenças respiratórias, Eduardo Saba explicou que cepas geradas pela doença periodontal podem ser aspiradas. Teresa Márcia de Morais, cirurgiã-dentista coordenadora do Departamento de Odontologia da Santa Casa de Misericórdia de Barretos – FEB, explicou que, atualmente, uma das principais medidas de controle de infecção em hospitais é a lavagem das mãos, entretanto, há um descaso com a boca. “Há uma associação importante entre pneumonias nosocomiais e doença periodontal. Portanto, é fundamental a presença de cirurgiões-dentistas dentro das instituições de saúde, fazendo o acompanhamento da saúde bucal de pacientes na UTI”. Pesquisas também têm mostrado a associação entre doença periodontal e doenças cardiovasculares. Segundo Bruno Caramelli, doenças cardiovasculares causam a morte de 1/3 da população mundial, sendo o infarto a principal delas. “Um dos indicadores da doença coronariana é o espessamento da camada médio-intimal da artéria carótida e estudos têm revelado que esse espessamento é maior em sujeitos com periodontite grave. Trabalhos mostram que o tratamento da doença periodontal atenua esse processo de espessamento da carótida. Entretanto, não se pode afirmar que doença periodontal é uma causa de infarto”, disse. Com relação ao parto pré-termo, o cirurgião-dentista Eduardo Saba explicou ainda que, na doença periodontal, a ação bacteriana induz a liberação de prostaglandina, substância que ativa contrações uterinas. Assim, além de poder interferir em um parto prematuro, pode também aumentar cólicas e TPM. Diante de todas essas associações, Saba lembrou que é fundamental que cada paciente seja tratado individualmente, ou seja, é importante que o profissional verifique o epigenoma (modificações que o meio causou na expressão dos genes) de cada um. Após os workshops, foi realizada uma coletiva de imprensa que contou com a participação dos profissionais citados e de Giuseppe Alexandre Romito, Presidente da Sociedade Brasileira de Periodontologia (SOBRAPE) e professor doutor da Disciplina de Periodontia da USP e Carlos de Paula Eduardo, diretor da Faculdade de Odontologia da USP. 
Dicas para uma boa saúde bucal Durante o evento, os especialistas destacaram a importância e o direito de todo sujeito, independente de ser portador de alguma doença, de ter acompanhamento odontológico. Hábitos de higiene oral são fundamentais, sendo mais facilmente incorporados na infância. A higienização mecânica (escovação e uso de fio dental) deve ser feita diariamente. Os cirurgiões-dentistas destacaram que a escovação não tem como alvo principal a remoção de restos de alimento e sim a remoção de bactérias. Assim, recomendam que a escovação não seja feita imediatamente após a refeição, mas cerca de 20 minutos após. Isto porque, ao ingerir alimentos, a acidez da boca é alterada e os dentes tornam-se mais sensíveis, logo a escovação imediata aumenta a sensibilidade dentária. Pelo mesmo motivo, também não se deve escovar os dentes após vômitos, sendo mais adequado o uso de enxaguatórios bucais. A higienização da língua também é fundamental. Este processo não deve ser feito com aparelhos rígidos que comprovadamente causam danos aos tecidos moles. A língua pode ser higienizada com limpadores linguais que ficam na parte de trás de escovas dentárias, pois, por não serem tão rígidos, não agridem a mucosa oral. Vale lembrar que é importante obter orientações com o dentista de como deve ser feita a escovação correta, assim como quais produtos são mais aconselháveis. Isto porque, o uso de escovas muito duras e a escovação errada podem trazer problemas, por exemplo, a retração gengival.

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Fonte: Agência Notisa

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