Aquela dor na arcada dentária provocada por líquidos ou alimentos quentes ou frios é um problema frequente em todo o mundo, conhecido entre os dentistas como hipersensibilidade da dentina, um tecido vivo ligado ao nervo por microtubos que fica exposto quando o esmalte do dente apresenta falhas por desgaste natural ou por fatores relacionados a dietas ácidas, refluxo estomacal ou retração da gengiva.
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O tratamento realizado pelos dentistas deverá ganhar em breve um novo aliado com o lançamento de um material que promete combater a dor local com a reconstituição da dentina. A empresa Vitrovita Bio que está sendo formada por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) deverá produzir o Biosilicato, nome do produto registrado pela empresa. Ele é bioativo, formado por silício, sódio, potássio, cálcio e fósforo, na forma de pó, e capaz de se ligar ao esmalte dentário. Essa é uma das três empresas formadas a partir de projetos formulados em duas universidades paulistas.
As outras duas são a ProtMat Materiais Avançados, instalada na Incubadora para Inovação e Empreendedorismo (Inove) em Guaratinguetá, no interior paulista, especializada na fabricação de blocos cerâmicos usados na produção de próteses dentárias com projeto originado na Escola de Engenharia de Lorena, da Universidade de São Paulo (USP), e a Binderware, outra spin-off da UFSCar e da USP que tem foco na produção de um cimento reparador para aplicação na endodontia, especialidade da odontologia ligada às enfermidades na polpa e nos nervos dentais.
O Biosilicato da Vitrovita é um material depositado na abertura dos microtubos da dentina, formando uma camada contra a movimentação de fluidos quentes ou gelados até o nervo, situação que provoca a hipersensibilidade. A grande vantagem desse novo material em comparação aos usados nos tratamentos convencionais é sua capacidade de reagir e se fixar no esmalte dentário, o que possibilita um tratamento rápido e de longa duração. “Poucos minutos depois de sua aplicação, o Biosilicato induz a formação no local de uma camada de hidroxiapatita, substância que possui a mesma composição química e estrutura do tecido mineral dos dentes e ossos”, diz o engenheiro de materiais Edgar Dutra Zanotto, professor do Laboratório de Materiais Vítreos do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar e um dos sócios da empresa. O Biosilicato não possui nenhum efeito tóxico e, segundo Zanotto, pode ser usado também para a remineralização do esmalte após tratamento de clareamento dental, recomposição da massa óssea em periodontia (tratamento da gengiva) e proteção pulpar, no caso de nervo exposto.
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Os estudos que deram origem ao Biosilicato tiveram início em 2001 e fizeram parte da dissertação de mestrado do engenheiro de materiais Christian Ravagnani, sócio da Vitrovita, orientado por Zanotto e pelo professor Oscar Peitl. Também participaram do projeto pesquisadores da Faculdade de Odontologia e de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto. O desenvolvimento recebeu financiamento dos programas Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) e Apoio à Propriedade Intelectual, ambos da FAPESP.
Fonte: Revista Fapesp