*Carlos Roberto Squillaci
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O colapso mundial verificado a partir do mês de setembro do ano passado, com a quebra dos grandes conglomerados financeiros internacionais, os recordes históricos de desvalorização das ações nas bolsas de valores, a alta incontrolável das cotações do dólar e do euro, a retração do consumo, a estagnação da atividade industrial e o conseqüente aumento da massa de desempregados têm ampliado de maneira substancial o esboço de um cenário catastrófico para as economias globalizadas, entre as quais a brasileira que vinha de um excelente período de crescimento e pujança.
Todos estes elementos da atual conjuntura criaram as condições que farão toda a diferença nas perspectivas de crescimento da maioria dos setores de nossa economia, inclusive para as operadoras de planos de assistência à saúde. Como reflexo desta crise, importantes segmentos, como os das indústrias siderúrgica e metalúrgica, além daqueles que são primordialmente ligados a eles, estão em processo de reestruturação interna visando a contenção de custos e o rápido ajuste financeiro. Neste processo, indubitavelmente, uma parcela da massa de trabalhadores se tornará excedente e acabará perdendo sua posição com carteira assinada, deixando de obter os benefícios conquistados através das negociações sindicais.
Diante disto, temos que lembrar que são estas empresas, em sua maioria, as compradoras dos serviços prestados pelas operadoras de planos de saúde, incluindo-se a assistência odontológica com quase 85% de seus planos contratados na forma coletiva, com ou sem co-participação do empregado. Este elevado percentual corresponde a cerca de 9 milhões de beneficiários de planos odontológicos, sendo mais da metade localizados no Sudeste, região com considerável capacidade industrial instalada.
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Esta potencial perda de usuários decorre, indiretamente, de outros fatores primários que têm impactado, inclusive, a operacionalização da assistência à saúde bucal pelas operadoras odontológicas. Como o próprio presidente Lula apontou, a escassez de crédito na economia nacional é o principal problema causado pela crise internacional. De um lado, o crédito que faz a economia girar e acelerar o consumo faz as empresas produzirem. No final desta lógica, se não há produção, funcionários são dispensados. Por outro lado, é o crédito também quem garante, muitas vezes, o conforto financeiro de uma operadora de assistência à saúde. Sem ele, as dificuldades poderão surgir já que a alta do dólar tem aumentado os custos para a obtenção de insumos e materiais importados.
A nota positiva neste contexto e que poderá auxiliar as operadoras com certo grau de endividamento é a tendência do Banco Central, por meio das reuniões do Comitê de Política Monetária, em manter a redução da Taxa Selic nos próximos meses, como ocorreu em janeiro com o corte de 1,0 ponto percentual. O efeito imediato é a diminuição, nos bancos de varejo, das principais taxas de financiamento, como o capital de giro.
Entretanto, o que garantirá em 2009 o crescimento estimado em cerca de 15% no número de beneficiários de planos odontológicos, é o fato de que há uma latente demanda de usuários deste tipo de plano. Isso porque apenas 5,5% da população brasileira está vinculada a um convênio desta natureza e há, potencialmente, nichos de mercado a serem explorados em todas as regiões brasileiras, principalmente no Norte, Centro-oeste e Sul do país.
Caso não ocorram outros movimentos bruscos na economia e partindo da premissa de que as operadoras possam continuar a ofertar seus produtos sem estarem atadas a uma regulamentação que engesse e onere os produtos, espera-se que possamos manter, ao menos, a mesma taxa de crescimento de 2008 e, assim, dar o atendimento que a população vem buscando nos planos odontológicos. A promoção da saúde bucal, sua manutenção e a prevenção de doenças não pode ser completamente eficaz sem este tipo de assistência privada à população.
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Não se pode esquecer também que, atualmente, a maioria das negociações coletivas entre os sindicatos dos empregados e as empresas inclui o plano odontológico como benefício aos seus funcionários. Assim como aconteceu com os planos médicos, a odontologia tem se firmado agora entre as principais melhorias acrescentadas às convenções trabalhistas. Do ponto de vista da gestão dos recursos humanos, salienta-se, inclusive, a redução do absenteísmo. Foi-se o tempo que cuidar da aparência era deixado de lado. A boa dentição e um bonito sorriso, reflexos de uma saúde bucal adequada, são necessidades básicas para que o trabalhador possa ter melhor qualidade de vida e condições de conter demais doenças relacionadas à saúde geral do organismo.
Para se ter uma idéia desta alavancagem que ocorreu com a assistência privada à saúde bucal, desde a fundação da primeira empresa a comercializar planos exclusivamente odontológicos, em 1966, até dezembro de 2000, o mercado contabilizava cerca de 2,8 milhões de beneficiários neste segmento. Nos últimos oito anos este número cresceu 277,31%, alcançando cerca de 11 milhões de usuários. No segmento de Odontologia de Grupo, o SINOG detém, em seu quadro associativo, empresas de odontologia de grupo que operam planos de odontologia cadastrados na Agência Nacional de Saúde Suplementar, sendo que as maiores (em número de beneficiários) compõem este quadro. Isto significa que o SINOG, hoje, representa, através de suas associadas, cerca de 48% dos usuários de planos odontológicos do Brasil e, portanto, a entidade de maior representatividade na prestação da assistência odontológica.
Fonte: Site Olhar Direto