Caro Leitor, pense em fazer um curso ou assistir uma aula sobre um tema de seu interesse em odontologia em qualquer lugar e no horário de sua preferência e disponibilidade. Pense também num encontro virtual com seu Professor (Tutor) ou com um grupo de dentistas de várias partes do Brasil ou do Mundo. Quando escolhi o tema deste artigo, decidi compartilhar uma tendência da Educação à Distância – EaD – como forma de capacitação complementar para profissionais de setor de saúde.
Nos dias de hoje, ocorrem diversas dificuldades enfrentadas por profissionais ao acesso à formação continuada. Para Silva (2004), estes profissionais do setor da saúde apresentam características de serem requisitados em horários flutuantes e regimes de plantão o que justifica uma opção pela modalidade de educação mediada pela tecnologia. O tempo gasto com deslocamentos entre seus locais de trabalho e o tempo com cursos de formação presencial podem reduzir a receita destes profissionais em suas atividades particulares uma vez que interrompem o atendimento em seus consultórios.
A Educação à Distância (EaD), que por uma questão corporativista pode ser segmentada em Odontologia à Distancia (OaD), passa a ser uma estratégia para a educação permanente frente às novas tecnologias e como uma inovação pedagógica na educação e Gestão Estratégica de Recursos Humanos (GERH). Esse novo agir na educação poderá levar Dentistas e seus Colaboradores a desenvolverem a competência continuada, por meio da cooperação, participação, responsabilidade e capacidade decisória. Nessa produção de diálogo e cooperação podemos discutir sobre assuntos científicos e de gestão em odontologia.
Para que ocorram inovações e mudanças nos serviços de saúde nas organizações, faz-se necessário a produção do conhecimento a partir das práticas e da democratização da gestão dos processos de trabalho (Brasil, 2005). Dessa forma, entende-se que a capacitação permanente pode ser realizada por meio da gestão em educação à distância entre os profissionais dos serviços de saúde em nosso país. Por meio da EaD, profissionais de diferentes regiões podem ter acesso facilitado a programas de capacitação e desenvolvimento, com qualidade, economia e agilidade.
Enquanto a aprendizagem é uma atividade contínua, iniciando ao nascimento e se estendendo por toda a vida das pessoas (Valente, 2001), educar pode ser entendido como uma forma de viabilizar que docentes e discentes transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. Este processo contínuo ajuda na construção de uma identidade pessoal e profissional, permitindo o desenvolvimento de habilidades que possibilitam a transformação do aprendiz em cidadão realizado e produtivo. A autoaprendizagem pode ser muito facilitada pela EaD (OaD). A utilização de diversos meios de comunicação viabiliza a apresentação da informação por meio de recursos didáticos de maneira organizada.Todavia, na era da informação pela qual se vivencia, é preciso reaprender a conhecer, a comunicar, a ensinar e a aprender; a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social (Moran, 2000).
Para Belloni (2001), o indivíduo que irá ingressar no mercado de trabalho precisa atender às demandas das sociedades contemporâneas e as do futuro próximo. Atualmente o mercado enfatiza a necessidade de múltiplas competências, desde a capacidade de trabalho em equipe, como a de aprender e de adaptar-se a situações novas. Para tanto, o trabalhador precisa desenvolver uma série de novas habilidades sendo a autonomia na gestão de seu próprio trabalho e na capacidade de trabalhar em grupo de modo cooperativo de fundamental importância. Estas mudanças de paradigmas impõem imensos desafios para os sistemas educacionais. Tanto os currículos como o método de ensino precisam ser repensados. O foco maior passa ser a aprendizagem e não mais o ensino sem, contudo, negligenciar a formação do espírito científico e das competências de pesquisa.
De acordo com Drucker (1992), o trabalhador da Era Industrial no modelo taylorista praticamente não precisava lidar com modificações no posto de trabalho ou na estrutura da empresa consequência da maior a padronização dos cargos e tarefas. Por outro lado, na Era da Informação, o conceito de emprego por habilidades e conhecimentos subtitui a política do pleno emprego estável e seguro, o que exige um trabalhador capaz de realizar tarefas com maior complexidade e com freqüentes mudanças na forma de como elas serão executadas. Esta situação define a procura por profissionais capacitados e acaba motivando as organizações a preparar seus recursos humanos de forma que estes estejam capacitados para desempenharem suas funções.
Conforme reportado por Aretio (1996), a economia é um grande diferencial da EaD em relação à educação presencial. A implementação de programas de educação profissional a distância representa um gande investimento inicial dependendo do tipo de curso a ser utilizado, da aquisição de equipamentos e com o desenvolvimento de metodologias e materiais que irão auxiliar a aprendizagem. Porém, quando se considera o número de alunos que irão utilizar essa ferramenta os custos desta implementação serão diluídos tornando-os viáveis para a empresa motivando-a inclusiva a oferecer outros tipos de cursos.
Como todo método de ensino, a EaD apresenta vantagens e desvantagens em sua forma de utilização. Dentre as vantagens, podemos citar (ARETIO, 1994 apud SANTOS, 2002, p.12).
a)permite maior disponibilidade e ritmos de estudo diferenciados;
b)elimina barreiras de espaço e tempo, abrindo espaço para pessoas que tenham dificuldades de deslocamento ou de agenda para estudarem;
c)otimiza recursos com redução significativa de custos de formação, especialmente em tempo, viagens e estadias;
d) Garante e promove a experimentação e a familiarização com a tecnologia e com novos serviços telemáticos;
e)torna o conteúdo dos cursos mais adequados e atraentes, especialmente os que se apresentam em formato multimídia;
f)permite conciliar a aprendizagem com a atividade profissional e a vida familiar (incompatibilidade de horário ou outras experiências familiares ou profissionais);e
g)iguala oportunidades de formação adequadas às necessidades de uma determinada população.
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No mesmo trabalho, Aretio (ARETIO, 1994 apud SANTOS, 2002, p.12) relaciona as seguintes desvantagens:
a)não proporciona uma relação humana aluno/professor típica de uma sala de aula;
b) não gera reações imprevistas e imediatas;
c)exige alguns conhecimentos tecnológicos (informática e multimídia);e
d)enfrenta alguns obstáculos relacionados com a reduzida confiança neste tipo de estratégia educativa por parte dos mais conservadores e resistentes a inovação e a tecnologia.
Nas relações humanas, tanto interpessoais como com o ambiente em seu entorno, a busca pelo aperfeiçoamento pessoal e coletivo sempre se faz presente o que significa entender que a prática educativa faz parte do cotidiano daqueles que desejam se desenvolver e se aperfeiçoar. As tecnologias da informação em que se baseia a EaD, viabilizam a formação de redes de distribuição de conhecimento, na medida em que permitem maior flexibilidade e acessibilidade à oferta educativa, e representam uma revolução nos modelos tradicionais de educação (Oliveira, 2007).
Nos últimos três anos o aumento no número de alunos matriculados em cursos a distância em instituições regulamentadas pelo Ministério da Educação (MEC) foi de 218%, conforme dados do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta a Distância (Abraead) de 2008. Os números revelam a tendência cada vez maior de ofertar o aprendizado virtual para agregar mais estudantes. Para isso, as instituições investem pesado em novas tecnologias que facilitam ainda mais o acesso aos estudos. (Sanchez, 2008)
Paralelo ao crescimento nos números de usuários de computadores e de internet, a EaD vem apresentando também um expressivo crescimento no Brasil. Enquanto no ano de 2006 foram oferecidos 194 cursos, no ano de 2007, este número passou para 320 o que representou um crescimento de 64,9% (Vieira, 2009).
Segundo o Jornal Gazeta do Povo (Globo, 2009), a modalidade de EaD foi a que apresentou maior crescimento no ensino superior brasileiro. No ano de 2008 o número de estudantes de graduação representou um aumento de 91% em relação a 2007. Apesar dos cursos à distância representarem apenas um sexto dos alunos presenciais, seu avanço tem surpreendido os gestores de faculdades tradicionais. Enquanto no período de 2004-2008 o aumento de matrículas presenciais foi menor que 17%, o crescimento na educação à distância chegou a 1.175%. Segundo a reportagem, Carlos Bielschowsky, secretário de EaD no MEC, afirma que o ensino a distância democratiza o acesso ao ensino superior. Indicadores de 2007 do Ministério da Educação informam um total de 4,8 milhões de estudantes em cursos presenciais no Brasil. Em relação a 2006 esse crescimento foi de 4,4%.
A busca crescente por conhecimento aplicado, a necessidade de alta qualidade de conteúdo, de otimização de custos e tempo, a flexibilidade e as interações nos processos de aprendizagem podem fazer desta modalidade de educação um processo de capacitação constante, de aprender no trabalho de forma colaborativa, juntando a teoria e prática, refletindo sobre a própria experiência, ampliando-a com novas informações e relações.
Portanto, a consolidação da Odontologia àDistância – OaD – deve ser encarada como uma forma de aprendizado adequado à dinâmica atual do mercado a como um diferencial na busca de desenvolvimento de Dentistas, Colaboradores e Organizações.
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*Sobre o Autor
Especialista em Prótese Dental
MBA Executivo de Gerência em Saúde pela FGV
MBA em Gestão de Serviços de Saúde pela UFF
Professor da Universidade Tuiuti do Paraná
Diretor de Ensino e Negócios na Dentes e Números Consultoria
flavioaribeiro@terra.com.br
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BELLONI, Maria Luiza. Educação à distância. Campinas: Autores Associados. 2001. 115 p. (Coleção educação contemporânea).
BRASIL. A educação permanente entra na roda: pólos de educação permanente em saúde: conceitos e caminhos a percorrer. Brasília: Ministério da Saúde – Departamento de Gestão da Educação na Saúde, 2005.
DRUCKER, Peter Ferdinand. Administrando para o futuro: os anos 90 e a virada do século. São Paulo: Pioneira, 1992. 250 p.
GLOBO. Graduação à distância quase dobra no Brasil em um ano. Gazeta do Povo. Curitiba, 12 maio 2009. Disponível em: <http://www2.abed.org.br/noticia/asp?noticia ID=429>. Acesso em 24 Jun. 2009.
MORAN, José Manuel. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias. Revista Informática na Educação: Teoria & Prática, v.3, n.1, Set, p.137-144, 2000.
OLIVEIRA, Marluci Alves Nunes. Educação a Distância como estratégia para educação permanente em saúde: possibilidades e desafios. Revista Brasileira de Enfermagem, v.60, set-out, p.585-589, 2007.
SANCHES, Fábio. Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância. 4ª ed. São Paulo: Instituto Monitor, 2008. 192p.
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SILVA, José Carlos Tavares da; LINS, Elizabete do Rego e FERNANDES, José Rodrigues. EaD para capacitação de profissionais de nível superior ligados à saúde pública. In: VII CONGRESSO IBEROAMERICANO DE INFORMÁTICA EDUCATIVA, 2004. Monterrey: Anais do VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa. Monterrey, 2004. p. 1283-85.
VALENTE, Jose Armando. Aprendizagem continuada ao longo da vida. Revista Pátio, v.IV, n.15, p.9-12, 2001.
VIEIRA, Elaine. Mais oportunidades para estudar sem sair de casa. Gazeta Online Rio de Janeiro, 18 maio 2009. Disponível em: <http://gazetaonline.globo.com/index.php?id=/local/a gazeta/materia/php&cd matia=513362> Acesso em: 25 Jun 2009.