O tema Odontologia Hospitalar – ou, ainda, Medicina Oral – tem sido revisto com lentes de aumento em anos mais recentes por órgãos representativos, como o Ministério da Saúde, o Ministério da Educação (MEC), pelos Conselhos Regionais de Odontologia
-
-
(CROs) e pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) – além de entidades representativas das especialidades odontológicas e associações interessadas no tema. Mas, qual é a situação da Odontologia Hospitalar no Brasil? O assunto será amplamente debatido durante o 30° Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP), que acontece entre os dias 28 e 31 de janeiro no Expo Center Norte (SP).
Na opinião do cirurgião-dentista Paulo Affonso Pimentel Júnior, a colaboração do profissional de Odontologia na recuperação do paciente internado em uma unidade hospitalar abrange desde a motivação para uma adequada higiene bucal e procedimentos de descontaminação oral no leito, até o atendimento de eventuais urgências odontológicas.
-
-
“Quadros como sangramento e inflamação gengival, halitose e outros problemas comuns nos consultórios podem ser amplificados quando o paciente está internado numa UTI, por exemplo. Além de cumprir uma rotina individualizada de higiene bucal, o paciente deve receber acompanhamento especializado para controlar possíveis quadros sistêmicos associados à contaminação oral direta, como a pneumonia associada à ventilação mecânica, ou indireta, como a alteração do metabolismo geral em função do aumento de fatores inflamatórios sistêmicos causados por uma inflamação crônica na boca”, diz Pimentel.
Mas, apesar de desempenhar papel fundamental na recuperação do paciente internado e na prevenção do agravamento de inúmeros quadros, o número de cirurgiões-dentistas especializados em Odontologia Hospitalar ainda é reduzido. Além disso, as residências ainda não estão padronizadas e disponíveis em todo o país. No Brasil, ainda não há uma capacitação específica reconhecida pelas entidades representativas da Odontologia. Entretanto, existem diferentes modelos de residências em Odontologia Hospitalar já em andamento, reconhecidos pelo MEC e pelo Ministério da Saúde, que seriam a forma ideal de capacitação para essa área em função da grande responsabilidade que ela representa e da enorme gama de conhecimentos necessários.
“Existem, atualmente, dois formatos de residência para a Odontologia Hospitalar: o modelo específico e o multiprofissional. No primeiro, o foco são os cuidados bucais em protocolos com outros segmentos médicos; no segundo, o foco é um problema sistêmico em que também há necessidade de cuidados bucais associados. O modelo específico pode apresentar mais vantagens que o multiprofissional, já que permite a vivência em maior número de setores e serviços hospitalares”, diz o especialista.
Pela dificuldade de criação das residências em todos os estados, os Conselhos Regionais de Odontologia têm criado comissões de Odontologia Hospitalar e Medicina Oral com o objetivo de auxiliar na formatação de uma habilitação para a área e suprir a grande demanda atual.
-
-
Pimentel afirma que o cirurgião-dentista habilitado em Odontologia Hospitalar deve possuir profundo conhecimento médico para atuar bem no ambiente hospitalar. O profissional interessado deve saber que é necessário adquirir determinados conteúdos de aplicação prática que a maioria das faculdades de Odontologia ainda não oferece, como farmacologia clínica, clínica médica e semiologia. Também é importante se familiarizar com o jargão hospitalar, a fim de poder ler e escrever em prontuários, atuar em centros cirúrgicos, enfermarias e unidades de terapia intensiva através de protocolos específicos.
“Outro ponto importante é o conhecimento integrado dos fundamentos de diversas especialidades e habilitações odontológicas já reconhecidas, como estomatologia, atendimento a pacientes com necessidades especiais, dor orofacial, periodontia, endodontia, odontopediatria, cirurgia bucomaxilofacial, odontogeriatria, laserterapia e analgesia inalatória, entre outras”, diz o especialista.
Situação dos departamentos de Odontologia das entidades médicas
Atualmente, certas entidades médicas abrigam departamentos de Odontologia que têm sido bastante atuantes no estabelecimento de parcerias entre médicos e cirurgiões-dentistas, estando, ainda, empenhados na tentativa de certificação da atuação Odontológica no ambiente hospitalar.
A abertura das entidades médicas para a interdisciplinaridade é elogiável, mas, apesar de contribuir para a construção de um novo modelo de Odontologia focada nos protocolos conjuntos, a criação de certificações da atuação odontológica dentro das entidades médicas pode, na opinião de Paulo Pimentel, gerar conflitos com a entidade reguladora da profissão e que possui o legítimo direito de certificação – o Conselho Federal de Odontologia.
Para o especialista, que vai aprofundar o debate durante o 30° CIOSP, um outro problema criado pela autocertificação nesses departamentos é que na maioria das especialidades médicas existe a necessidade de atuação integrada com os cirurgiões-dentistas. Isso tornaria complicada a atuação hospitalar, já que exigiria que diversos cirurgiões-dentistas se ocupassem de um paciente com múltiplas morbidades.
As entidades acadêmicas da Odontologia também têm interesse no tema, e englobam as faculdades de Odontologia e outras entidades que, atualmente, têm o direito de oferecer pós-graduações, com o aval do CFO e do MEC. “Com a modificação do modelo de formação é esperada uma grande reviravolta nas pós-graduações em Odontologia. Afinal, no modelo atual cabe ao aluno a remuneração por sua formação, e nas residências o aluno recebe salário para o aprendizado em serviço, semelhante ao que ocorre na Medicina. Assim, é possível que tais entidades possam ser afetadas se o novo modelo se impuser, exigindo a adequação às exigências dos órgãos de fomento, como o Ministério da Saúde e o MEC, ou fazendo parcerias com segmentos privados”, diz Pimentel.
Para o cirurgião-dentista, entre essas e tantas outras opções para regulamentar a atuação dos profissionais de Odontologia Hospitalar, “o importante é que as decisões sejam tomadas com base no bom senso e no desejo de servir à sociedade e aos usuários do SUS, preservando, também, os interesses dos esforçados profissionais que dedicam tanto do seu tempo para cuidar da saúde bucal da população”.
Fonte: Prof. Dr. Paulo Affonso Pimentel Júnior, cirurgião-dentista que participará do simpósio sobre Odontologia Hospitalar durante o 30° Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP), que acontece entre os dias 28 e 31 de janeiro no Expo Center Norte (SP).