O Brasil é o campeão mundial em número de dentistas , mas não consegue se livrar de uma doença que é considerada epidemia global, a cárie.
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De acordo com o CFO (Conselho Federal de Odontologia), existem 219.575 cirurgiões-dentistas no País. "Trata-se de uma contradição, mas ela acontece porque a maior parte desses profissionais atua nas grandes capitais e nas cidades médias, em desenvolvimento", afirma o coordenador do curso de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo, André Passarelli Neto. "Os municípios menores, ou mesmo as periferias, não têm um desenvolvimento adequado na área da saúde."
O presidente da ABO (Associação Brasileira de Odontologia), Newton Miranda de Carvalho, afirma que há vários fatores que interferem na alta incidência da cárie. "Primeiro é a falta de educação para a saúde. Parte da população não tem informações", afirma Carvalho. "Outro fator é a falta de recursos dos mais carentes para adquirir produtos como pasta de dente, fio dental."
Além disso, Carvalho explica que o País conta com população jovem, grupo que está mais propenso a desenvolver cárie. "Eles não estão informados adequadamente e sua alimentação é rica em carboidrato, o que favorece a doença."
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Contudo, Carvalho assegura que o governo e a ABO vem tomando iniciativas no auxílio do combate à cárie. "Ela é sempre uma ameaça, mas nós temos trabalhado no sentido de diminuir esse processo com medidas de ordem prática", afirma o presidente da associação, que ressalta que ainda há muito o que se fazer.
"O poder público tem que adotar medidas de prevenção, só assim a intervenção necessária para o tratamento da cárie vai diminuir. O Brasil, no entanto, ainda está no sentido inverso: trata-se ao invés de evitar."
Maioria tem – Segundo a última pesquisa Saúde Bucal Brasil, realizada em 2003 pelo Ministério da Saúde, a prevalência da doença aos 12 anos de idade foi de 68,9%, ou seja, mais de dois terços de todas as crianças nessa faixa etária tiveram pelo menos um dente cariado. Essa faixa etária é usada como parâmetro em políticas públicas de saúde.
Foi justamente na juventude que a secretária Jane Garavati, hoje com 55 anos, teve sua primeira experiência no assunto. "Já tive várias vezes, mas a primeira foi por volta dos 15 anos", conta a moradora de São Bernardo, que assegura que já sofreu bastante por conta de uma delas. "Certa vez, tive um dente que doía muito. Foi necessário me submeter a uma endodontia (tratamento de canal), porque a cárie já havia atingido o nervo."
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Jane afirma que, hoje, procura manter hábitos saudáveis de higiene bucal e considera importante visitar o dentista periodicamente. "Há muito tempo não tenho uma cárie", revela.
Contaminação de bebê por mãe é comum e preocupante
A cárie é uma doença infectocontagiosa. Isso significa que ela pode ser transmitida de pessoa para pessoa, através do contato direto com gotículas de saliva, beijo e, principalmente, no contato entre mãe e bebê. "Isso acontece, por exemplo, no momento em que a mãe lambe a colher do filho para verificar a temperatura do alimento", afirma a dentista de São Bernardo Lucimar Siqueira.
Ela explica que o maior risco de contágio acontece entre 19 e 31 meses, quando a comunidade bacteriana da boca da criança não está completa.
A combinação de três fatores também leva à formação da cárie: o hospedeiro (dente e saliva), a presença de micro-organismos e uma dieta rica em carboidrato e açúcar. "Além disso, há fatores hereditários, nutricionais e hormonais", diz. Caso não seja tratada, a doença pode resultar na destruição e até na perda dos dentes.
Como forma de prevenção, a dentista aconselha a escovação correta dos dentes após cada refeição, o uso de uma escova macia, fio dental, creme dental com flúor e enxaguante bucal. "Deve-se também manter uma alimentação saudável, evitando o consumo de açúcares como doces e refrigerantes entre as refeições."
Lucimar alerta ainda que nem sempre a cárie provoca dor. "O dente é formado por esmalte, dentina e polpa, que é o nervo. A medida que a cárie evolui em direção à polpa, a dor começa a se manifestar."
Para evitar sofrimento, o melhor mesmo é ir ao consultório odontológico a cada seis meses como forma de prevenção de doenças bucais e avaliações dentárias. Os cuidados devem ser iniciados desde cedo. "A criança deve começar a frequentar o dentista quando os dentinhos começam a nascer, ou seja, mais ou menos aos 6 meses, para que os pais recebam a orientação de como limpá-los", afirma Lucimar.
Fonte: Diário do Grande ABC
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