* Salvador Marucci Jr.
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SINÓPSE
O presente trabalho tem por objetivo, realizar uma revisão da literatura das metodologias de identificação de pessoas através de interpretação radiográfica dos seios frontais, como forma auxiliar na coleta de dados anatômicos e morfológicos, contribuindo com uma identificação positiva. Resumidamente foi realizado um estudo da origem, crescimento e função dos seios da face, particularmente do seio frontal, assim como também de vários artigos e trabalhos científicos que colaboraram na identificação de pessoas vítimas de acidentes, crimes ou que estavam desaparecidas a muito tempo. As metodologias, independente da forma utilizada, sempre auxiliaram como exames complementares nas identificações.
UNITERMOS
Identificação; Radiografias;Seio Frontal.
INTRODUÇÃO
O seio frontal assim como a maioria das cavidades ocas do crânio (seio esfenoidal, seio frontal, células etmoidais, seio maxilar), são cavidades pneumáticas forradas de uma membrana mucosa, e que se comunicam direta ou indiretamente com o aparelho respiratório. Estas cavidades se desenvolvem de invaginações da mucosa para o interior do osso, sua expansão ocorre enquanto o osso esta sendo reabsorvido pelos osteoclástos. No crânio humano as cavidades pneumáticas desenvolvem-se como cavidades paranasais, em imediata comunicação com as cavidades nasais e como continuação das cavidades do ouvido médio, que se encontra em comunicação com a faringe, através da trompa auditiva. Na época do nascimento, as lâminas interna e externa do osso frontal são paralelas e não existe o arco supraciliar e o seio frontal. Posteriormente a lâmina externa da região supra-orbitária cresce mais rapidamente que a lâmina interna, pela aposição de osso na superfície externa. A lâmina externa parece afastar-se progressivamente da lâmina interna, formando uma crista romba acima do bordo superior da entrada da órbita. No início o espaço entre as duas lâminas do osso frontal é ocupado por osso esponjoso e depois pelo seio frontal. È provável que a lâmina externa nesta região seja uma resposta às crescentes forças mastigatórias, que são transmitidas para a parte mais anterior da base do crânio pela apófise frontal do maxilar e pelo osso zigomático. O seio frontal começa a se desenvolver da extremidade anterior superior do infundíbulo, ficando inicialmente na parte medial do arco supraciliar. Se o seio frontal é amplo, ele se estende para cima e lateralmente entre as lâminas interna e externa, e pode prolongar-se até a parte anterior do teto da órbita. O sépto entre os dois seios frontais tambem é assimétrico. As paredes do seio frontal raramente são lisas, pois habitualmente encontram-se cristas em forma de foice, principalmente na parede superior. Como função o seio frontal, assim como a maioria das cavidades ocas do crânio é, além de tornar mais leve o complexo estrutural ósseo do crânio, também de promover o aquecimento ou resfriamento do ar antes do mesmo atingir as vias aéreas superiores e inferiores ( bronquios e pulmões ), para que este tenha também aproximadamente a mesma temperatura do corpo humano.
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METODOLOGIA ( Padronização da Identificação )
A.M.P. Harris; R.E. Wood; C.J.Nortjé e C.J.Thomas, na faculdade de odontologia de Stellenbosch na república da Africa do Sul, realizaram um estudo em 32 radiografias de crânios em incidência postero-anterior de um mesmo grupo racial, partindo-se do princípio que alguns fatores relacionados com o seio frontal tais como: altura, largura e o número de lacunas permanecem constantes dentro de uma população localizada. Basearam-se nas propostas de Culbert e Law na localização de pontos craniométricos para obtençaõ dos traçados de referência; Foram utilizados os pontos relacionados com os forames infra-obitários, e os cumes dos côndilos direito e esquerdo. Os pontos indicados pelos forames infra-orbitários foram unidos, assim como os pontos relacionados aos cumes dos côndilos, dando duas linhas retas paralelas entre si . À estas duas linhas foram adicionadas duas outras linhas, estas perpendiculares às linhas horizontais já estabelecidas, cada uma delas passando como referência sobre os forames infra-orbitários, obtendo-se assim duas outras linhas, estas verticais e paralelas entre si, prolongando-se além da região supra orbital. A superposição destas linhas de referência em ambas as radiografias (antes e pós morte), devem ser rigorosamente coincidêntes, assim como o “mapeamento,” do seio frontal contido em ambas, através das radiografias. O uso desta técnica é sugerido para a identificação de pessoas acima dos 20 anos, pois o seio frontal pode mudar durante o desenvolvimento.
Ribeiro, Q.A F.- Baseado em medidas lineares, padronizou um método de identificação de pessoas por análise comparativa de radiografias póstero-anteriores dos seios frontais. Primeiramente ele traçou uma linha base, determinada por uma linha reta unindo os bordos superiores das cavidades orbitárias; Sobre ela foram projetadas quatro linhas perpendiculares, sendo que duas delas delimitam a lateral máxima de ambos os lados do seio frontal, e as outras duas linhas saindo perpendicular à linha base, passando pelo ponto mais alto ( distante da linha base ) do seio frontal. Medindo as distâncias entre essas duas linhas perpendiculares a linha base obteve-se:
A)A distância máxima entre a primeira e a quarta linha, que nos dá o maior diâmetro dos dois seios frontais.
B)A distância entre a segunda e terceira linha, relacionada com os pontos mais altos dos seios frontais.
C)A distância entre a primeira e segunda linha, nos dá a relação do limite lateral, com o ponto mais alto do lado direito.
D)A distância entre a terceira e quarta linha, nos dá a relação do limite lateral, com o ponto mais alto do lado esquerdo.
Esta técnica foi utilizada em 500 radiografias P.A em que apareciam os seios frontais, com 100% de acerto nas identificações. No método, foram inicialmente mensuradas e identificadas as 500 radiografias e, após, o registro e arquivamento dos dados em computador. As identificações nas radiografias foram apagadas e estas foram misturadas; Foi retirado aleatóriamente e novamente mensuradas, os dados novamente fornecidos ao computador, que as identificou imediatamente, pelos dados anteriormente fornecidos. A identificação foi realizada pela comparação das duas medidas ( anteriores e posteriores ), obtidas das radiografias. No estudo concluiu-se que, é válida a identificação de pessoas através de medidas lineares em radiografias de antes e pós morte.
Técnica utilizada para a identificação de dois jornalistas americanos desaparecidos na Guatemala à sete anos. O método consistiu na comparação morfológica e radiográfica da crista do seio frontal. Sendo evidênciada a existência de cinco tipos de morfologia, o estudo concluiu que, tres tipos ocorrem tão raramente, que foram combinados em uma só categoria de análise. As do primeiro tipo, são cristas que se originam, do forame cego, e terminam na forma de um bico ou ponta; As do segundo tipo, apresentam um sulco evidênte a partir do forame cego, que é ladeado por saliências paralelas. As outras categorias incluem algumas diferenças relacionadas com o formato da crista ou até mesmo pela sua ausência. Na forma, pode ser na presença de uma pequena saliência central na crista, que se alarga tomando a forma de bulbo, semelhante a uma lâmpada. Este método sugere apenas a superposição e combinação radiográficas dos lóbulos sinusais frontais como uma forma de comparação. A análise dos fragmentos ósseos, assim como a comparação entre radiografias de ambos os jornalistas, antes e pós morte da crista do seio frontal, possibilitaram a identificação.
Relato de quatro casos de identificação usando-se radiografias dos seios frontais.
Caso 1 – Homem queimado em incêndio em um hotel, impossibilitado de ser reconhecido por formas convêncionais, no exame pós morte observou-se apenas tres dentes na maxila e a evidência de uma cirurgia ortognática; Da pesquisa realizada com familiares das vítimas, sugeriu-se que fossem consultados arquivos de hospitais, nos quais haviam sido realizadas radiografias frontais das vítimas. A identificação positiva deste homem foi possível, baseada nas restaurações dos tres dentes, na cicatriz óssea da cirurgia ortognática e pelos bordos do seio frontal por comparação radiográfica.
Caso 2 – Após extinguir um incêndio em um apartamento, os bombeiros encontraram o corpo de uma vítima. Na tentativa de identificação, as autoridades localizaram em um hopital local radiografias de crânio; Uma comparação realizada entre as radiografias P.A do hospital e as realizadas na autópsia, resultaram numa identificação positiva, baseada nos bordos do seio frontal.
Caso 3 – Mulher, vítima de homicídio encontrada por um pescador em um rio ao norte de Indiana, após ter sido dada como desaparecida à 15 dias, e estava em adiantado estado de decomposição, a identificação visual não era possivel; Dez dias depois de ter sido descoberto o corpo, descobriu-se no hospital central da cidade de Indiana, que radiografias haviam sido realizadas da possivel vítima 6 anos antes. A identificação foi positiva primeiramente pelas características radiográficas dos bordos do seio frontal. Vinte dias mais tarde seu marido confessou o crime.
Caso 4 – Diversos restos esqueletizados foram descobertos onde meses antes um indivíduo havia sido dado como desaparecido. Comparações realizadas entre radiografias P.A do crânio desconhecido e as realizadas 6 anos antes em um hospital do estado do indivíduo desaparecido, resultaram em identificação positiva.
Com a incrementação da Tomografia Computadorizada (C.T),como um exame radiográfico de maior precisão em radiodiagnóstico de traumatismos cranianos, a quantidade de solicitações profissionais aumentou, tornando também possivel o uso da técnica como forma auxiliar de identificação por comparação de radiografias do seio frontal, como também por outras estruturas anatomicas do crânio. A quantidade de imagens fornecidas assim como a precisão e o registro dos cortes tomográficos, garantem uma padronização de tomadas radiográficas, de forma a sempre se obter os mesmos dados para estudo, seja comparativo ou por mensurações. As imagens obtidas podem ser arquivadas do próprio computador, e requeridas em momento oportuno. Existe a necessidade porem de que na indicação solicitada pelo profissional, os cortes tomográficos sejam feitos na região do seio frontal.
REVISÃO DA LITERATURA
Estudos anatômicos realizados por Leonado Da Vinci (1452 – 1519), já constatava a presença de cavidades ocas no crânio, que despertavam interesse quanto à função. Foram objeto de pesquisa em trabalhos de Carpi no sec.XVI, de Vesálio (1543), e de Fallopio(1739). Zuckerkandl(1895), foi quem realizou um estudo mais específico ligado a assimetria. Os estudos realizados com uso de raios X, foram iniciados com trabalhos de Sier e Jacob (1901), Hajek (1926), Testtut e Jacob (1929), Segura (1943), Arauz (1943), e no Brasil em (1926) com Bocchi e Marone (1962).
Schuller (1921), observou que não havia equivalência nos seios frontais nem em gêmeos idênticos, e em 1943, sugeriu a possibilidade de identificar pessoas pelo método radiográfico comparativo.Porem já em trabalho de 1927, Culbert e Law, realizaram a identificação de um homem desaparecido na Índia por 260 dias, totalmente desmembrado e desfigurado, por comparação de radiografias dos seios frontais e das células etmoidais, pois o mesmo havia se submetido a uma intervenção cirúrgica realizada à 8 anos antes. Outros trabalhos de identificação foram realizados por esse processo; Atkins, Majic, Potsaid (1978); Yoshino (1987); Jablonski e Shum (1989); Kullman, Eklund, Grundin (1990). Porem a grande dificuldade é a elaboração de um padrão de análise, que atenda a maioria, senão todos os casos, para caracterizar o item – classificabilidade – do protocolo de identificação pessoal. Delclós (1934), fez uma das primeiras tentativas levando em conta como características: A presença ou não do seio frontal; Simetria; Diâmetro; Dimensão; Contornos; Número de septos; Teto da órbita; Anomalias e Área. Schuller (1943) propos o mapeamento dos seios frontais que estivessem contidos em dois retângulos, e que um estivesse contido dentro do outro, sendo que o maior limita o seio frontal pelos bordos externos lateralmente, e pelo seu limite superior mais alto, e pelo limite inferior pela lâmina crivosa do esfenóide; Outro retângulo interno menor, dado por uma linha perpendicular que limita o seio frontal esquerdo do direito. O uso das medidas entre as linhas dos retângulos, assim como das características morfológicas das radiografias antes e pós morte, dariam a identidade do indivíduo. Marek et Al. (1983), apresentou um método levando em conta: Tamanho; Forma; Contorno. Yoshino et Al. (1987), baseado no trabalho de Marek, fez comparações e criou uma nova classificação quanto: Área; Simetria; Bordos superior; Séptos parciais e Células supra-orbitárias.
CONCLUSÃO
As radiografias do seio frontal podem ser consideradas como um exame complementar no processo de identificação humana, podendo-se utilizar de vários métodos já existentes e que nos forneçam dados precisos para tal. Todos os estudos estão de acordo, que o crescimento do seio frontal cessa aos 20 anos, e que permanecem inalterados durante toda a vida adulta; Porem podem existir fatores que podem modificar a morfologia normal do seio frontal, por exemplo: atlétas, pela maior ventilaçaõ durante os exercícios, aumentando a pressão interna das cavidades, promovendo uma hiperpneumatização dos seios, assim como patologias, infecções graves, tumores, fraturas, etc.. Parte-se da premissa que é necessário sempre que se tenha uma radiografia anterior, para uma possivel análise comparativa, sendo esta uma limitação do método, pois a praticidade no arquivamento e a classificabilidade é trabalhosa, o que não invalida a técnica, pois na eventual posse da radiografia anterior, teremos mais um recurso científico como descrito nas revisões feitas para buscar-se a identificação de uma pessoa.
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ABSTRACT:
The object of this text is to revise the literature of human identification methodologies from radiographics interpretations of frontal sinus, as an auxiliar in the anatomic and morfological informations,contributing to a positive identification. In resume, it was realized a study of the origin, growth and function of the face sinus, particularly of the frontal sinus, and also other articles and scientific works wich contributed in the identification of the victims in accidents and crimes, or long time disappeared people. The methodologies, no matter the way they were used, always helped as complemental exams in identifications.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1) Donnel C. Marlin; Michael A Clark; S. Miles Standish “Identification of Human Remains by comparison of frontal sinus Radiographs: A series of four cases”. Journal of Forensic Sciences, JFSCA,vol.36 No 6, Nov. l99l pp.1765 – 1772.
2) Harris, A M.P.; Wood, R.E.; Nortjé,C.J.; Thomas, C.J. “The frontal Sinus: Forensic Fingerprint? – A Pilot Study”. The journal of Forensic Odontostomatology, vol.5: No1: June 1987, pp. 5 – 9.
3) Owsley, D.W. – “Identification of the Fragmentary, Burned Remains of two U.S. Journalists seven years after their disappearance in Guatemala”. Journal of Forensic Sciences, vol.38, No6, Nov. 1993 pp. 1372 – 1382.
4) Reichs, K.J.; “Quantified comparison of frontal sinus patterns by means of Computed Tomography”.
Forensic Science International, vol.61, May 1993, pp.141 – 168.
5) Ribeiro, Q.A F.- “Um método de padronização de medidas feitas em radiografias dos seios frontais para ser utilizada na identificação de pessoas”. Tese de Doutorado apresentada à Escola Paulista de Medicina São Paulo – 1993.
6) Sicher,H.; Dubrul,E.L.- Anatomia Bucal. Rio de Janeiro Guanabara / Koogan, 1977. Pp. 71 – 72.
*Autor: Cirurgião Dentista, Especialista em Radiologia Odontólogica, Professor Assistente na Disciplina de radiologia Odontológica da UNG (Univ. de guarulhos) e Uniban-SP