Localizado à rua Dom Pedro II, centro da cidade, o primeiro prédio da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) – reconhecida no mundo pela excelência em formação de profissionais e pela qualidade no atendimento à população – será completamente restaurado. O anúncio foi feito na manhã de ontem (9), pelo diretor da instituição, Francisco Haiter Neto, que estima a intervenção em cerca de R$ 8 milhões. Serão de seis a oito meses para a realização de projetos e até quatro anos para a finalização do trabalho. O prédio, onde ficava o antigo Externato São José, com quatro mil metros quadrados de área, foi adquirido pelo município em 1955.
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Preservado pelo patrimônio histórico, o imóvel, considerado uma verdadeira relíquia arquitetônica e cultuado por cirurgiões-dentistas de todo o País por ter sido palco de boas lembranças, especialmente na década de 50, época em que a FOP, mantida pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), era denominada como Faculdade de Farmácia e Odontologia, apresenta vários problemas de estrutura.
Embora abrigue atualmente o Museu Odontológico, com um acervo de três mil peças, e sedie cursos e trabalhos sociais de relevância local e regional, o prédio agoniza com a presença de cupins, alto grau de sujidade, corrosão de partes metálicas, sem contar comprometimento de madeira, manchas de umidade, falência de alvenaria, crescimento desordenado da vegetação, rachaduras e intervenções errôneas.
Os danos foram identificados por meio de uma análise preliminar divulgada ontem pelo arquiteto Francisco Zorzetti, observado de perto pelo secretário municipal de Saúde, Fernando Cárdenas, sem contar a platéia atenta formada por professores, membros do Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba (Ipplap), ex-alunos e especialistas que se reuniram na atual sede da FOP, à avenida Limeira.
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PARCERIAS. Além de devolver à cidade um espaço rico em histórias, o restauro do prédio deverá movimentar empresários, poder público e especialmente a comunidade. Por exemplo, quem se comprometer a patrocinar o projeto, poderá abater 100% do Imposto de Renda (IR) devido até o limite de 4%. Na prática, de acordo com Luís César Coraza, vice-presidente jurídico da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), Museu à Ceu Aberto, em vez de destinar R$ 100,00 de tributo a pagar, a empresa interessada poderá reservar R$ 4,00 para o projeto de melhoria do prédio, e remeter R$ 96,00 ao governo.
Até Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) poderá ser abatido. “Num tempo em que se fala em crise, ajudar a recuperar um patrimônio nunca foi tão importante. Bom para todos”, observa Coraza. Além da Museu a Céu Aberto, a empresa Cedo Consultoria em Seguros e Gestão de Benefícios, de São Paulo, e a Companhia de Restauro estão à frente da iniciativa, que no momento aguarda sinal verde do Ministério da Cultura. Todas as etapas da obra serão submetidas ao aval, prévio e posterior, do Conselho Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba (Codepac).
Bem perto dos monumentos
O arquiteto Francisco Zorzetti está acostumado às grandes empreitadas. Na Companhia do Restauro, o expert acompanhou alguns dos projetos mais inovadores que aconteceram nos últimos tempos, especialmente em São Paulo (SP).
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A recuperação dos tradicionais Edifício Itália, do Palácio das Indústrias, do ‘Banespão’, da Agência Central dos Correios e do Monumento às Bandeiras, sem contar o Memorial JK, em Brasília (DF), confirmaram uma tese. Segundo Zorzetti, não é possível que imóveis clássicos, a exemplo do antigo prédio da FOP, se mantenham distantes dos olhos e do contato das pessoas. “Sou a favor de que a população se aproxime cada vez mais desses imóveis, que se familiarizem, até para que aprendam a conservá-los”, salienta.
Em Piracicaba, será realizado, após todos os procedimentos oficiais, a pesquisa histórica sobre o prédio. “Nesse âmbito, a comunidade terá muita importância também. Quem tiver desenhos, plantas ou fotos sobre o imóvel pode contribuir, colaborando para a recuperação da história”, sintetiza.
O levantamento métrico arquitetônico, que trará todos os detalhes possíveis sobre o empreendimento, aparece como o segundo passo a ser seguido.
A cronologia e a hierarquia do espaço, consolidando as alterações, além da identificação dos materiais que estão no prédio, como bronze, madeira, pedras, entre outros, serão respeitados. Está prevista, inclusive, uma investigação arqueológica nos jardins que poderá contar a história do centro da cidade. “Poderemos encontrar pedaços de louças e vidros da época, além de outros itens. Que todos se envolvam!”, bradou o especialista.
NÚMERO
4 mil m² é a área do imóvel que passará pelas intervenções
Fonte: Gazeta de Piracicaba