A terapia fotodinâmica, normalmente usada para o tratamento de alguns tipos de câncer superficiais, também pode ser usada para combater fungos e bactérias, tornando-se assim mais uma aliada no tratamento dentário. Na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, um estudo inédito pretende usar a terapia fotodinâmica para controlar a desmineralização dentária por meio do combate a micro-organismos como o Streptococcus mutans, responsável pela cárie.
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O Biotable foi desenvolvido no IFSC especialmente para esta pesquisaO autor do trabalho é o odontopediatra Thiago Cruvinel da Silva, pesquisador da FOB que atualmente realiza seus estudos na Academisch Centrum Tandheelkunde Amsterdam (ACTA) , na Holanda, por meio de um doutorado sanduíche.
A terapia fotodinâmica — também chamada de PDT (na sigla em inglês para Photodynamic Therapy) — consiste em usar uma substância química capaz de deixar a bactéria sensível à luz (fotossensibilizador). O fotossensibilizador interage com o micro-organismo e depois a luz entra em ação, matando-o. Cruvinel utiliza como fonte de luz um LED (sigla em inglês para Light Emitting Diode, ou Diodo Emissor de Luz) que produz a cor vermelha.
Biotable
O equipamento usado para emitir o LED foi especialmente desenvolvido para esta pesquisa pelo professor Vanderlei Bagnato, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP. “O professor Bagnato já patenteou esse equipamento, que recebeu o nome de Biotable, e outros pesquisadores já o estão utilizando em outros centros no Brasil”, informa Cruvinel.
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A cor vermelha do LED foi usada, segundo o pesquisador, pois cada agente fotossensibilizador responde melhor a um determinado comprimento de onda de luz. “Estou trabalhando com um fotossensibilizador produzido na Rússia, chamado Photogem, derivado de hematoporfirina, e ele responde bem à luz vermelha”, explica Cruvinel. “A vantagem de usar fotossensibilizadores derivados de hematoporfirina é que eles foram os primeiros a serem aprovados por órgãos como o Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, para serem utilizados em terapia fotodinâmica”, completa.
O odontopediatra conta que os primeiros testes demonstraram que esse equipamento foi eficaz no controle de Streptococcus mutans e Enterococcus faecalis, bactérias previamente crescidas sobre superfícies de dentes bovinos. Sobre o modo como a bactéria morre, Curvinel explica que “Depois que a luz é aplicada, o fotossensibilizador estimula a produção de radicais livres no local. Eles são responsáveis por gerar estresse na bactéria, até a sua morte”.
O próximo passo da pesquisa é tranferir os estudos para um modelo chamado Rob´s Model, desenvolvido por Rob Exterkate, pesquisador da Academisch Centrum Tandheelkunde Amsterdam. O Rob’s model é composto por uma placa de aço onde são inseridos 24 espécimes (dentes bovinos) em peças fixadas à placa. Com isso é possível ter em laboratório condições similares às encontradas na boca humana. “Pretendemos estudar a terapia fotodinâmica também em microcosmos bacterianos, que simula todas as bactérias que estão presentes na saliva das pessoas”, conta. Isso poderá ser feito inserindo o Rob´s model dentro da Biotable.
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Rob´s Model, desenvolvido no ACTA: modelo que simula as condições da boca
Testes laboratoriais
O pesquisador lembra que apesar de a terapia fotodinâmica já estar sendo usada para tratar alguns tipos de câncer em hospitais do Brasil, ainda é preciso realizar inúmeros testes para usá-la em tratamentos odontológicos. “Essa terapia ainda está sendo testada basicamente em laboratório. Existem muito poucos estudos clínicos, até mesmo para definirmos como os agentes [luz e agentes fotossensibilizantes] trabalham e qual a segurança deles”, ressalta.
De acordo com o odontopediatra, existem outras questões envolvidas no trabalho como, por exemplo, saber se a terapia fotodinâmica pode causar algum dano à polpa dentária (“nervo do dente”) ou quais os parâmetros mais adequados para controlar as bactérias. “Existem alguns periodontistas que já estão utilizando PDT no consultório. Porém, não existem estudos suficientes principalmente sobre a eficácia e segurança da técnica”, conta. Cruvinel acredita que em 4 ou 5 anos estarão disponíveis os primeiros resultados bem confiáveis de como utilizar essa técnica sem grandes riscos e obtendo os melhores resultados. “Dessa forma, acredito que a PDT poderá ser rapidamente difundida e de uso comum nos consultórios”, pondera.
O doutorado de Cruvinel tem orientação da professora Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado e co-orientação da professora Marília Afonso Rabelo Buzalaf, além da participação do professor Vanderlei Salvador Bagnato. Na ACTA, o trabalho tem a co-orientação do professor Jacob Martien ten Cate. A defesa da pesquisa deverá ocorrer em meados de 2011.
Fonte: Agência USP